Na última terça-feira (2), o diretor e roteirista Quentin Tarantino divulgou sua lista com os 20 melhores filmes do século XXI, destacando produções que, segundo ele, representam alguns dos momentos mais marcantes do cinema recente. A seleção foi apresentada em duas partes durante sua participação no podcast “The Bret Easton Ellis Podcast”. As descrições feitas pelo cineasta sobre cada título foram transcritas pelo portal World of Reel, que registrou a íntegra dos comentários divulgados.
Confira a lista de Tarantino e trechos da entrevista em que ele explica os motivos por trás de sua escolha:
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Amor, Sublime Amor [dir. Steven Spielberg] (2021)
“Este é aquele em que Steven mostra que ainda tem o que é preciso. Não acho que Scorsese tenha feito um filme tão empolgante [neste século]. O filme revitalizou […]”
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Cabana do Inferno [dir. Eli Roth] (2002)
“Há algo tão cativante. O senso de humor do Eli, o senso de gore — simplesmente funciona muito, muito bem. As pessoas meio que esquecem o quão tenso é na primeira metade porque fica genuinamente engraçado nos últimos 20 minutos.”
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O Homem Que Mudou o Jogo [dir. Bennett Miller] (2011)
“A atuação de Brad Pitt foi uma das minhas favoritas entre as de grandes astros nos últimos 20 anos — aquele tipo de interpretação em que uma estrela de cinema aparece e te lembra por que ela é uma estrela, carregando o filme nas costas.”
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Chocolate [dir. Prachya Pinkaew] (2008)
“Aqui está um filme do qual você provavelmente nunca ouviu falar […] Pessoas sendo detonadas das maneiras mais espetaculares possíveis […] eles treinaram essa garota de 12 anos por quatro anos para estrelar o filme […] essas são algumas das melhores lutas de kung fu que já vi em um filme.”
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Rejeitados pelo Diabo [dir. Rob Zombie] (2005)
“Essa pegada bruta à la Peckinpah–cowboy–Manson [vinda do Zombie] — essa voz realmente não existia antes [em A Casa dos 1000 Corpos], e ele refinou essa voz com este filme […] Peckinpah não fazia parte do terror antes disso. Ele fundiu isso com caipiras insanos, e isso virou uma coisa agora. Dá pra reconhecer de longe, mas isso não existia antes.”
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A Paixão de Cristo [dir. Mel Gibson] (2004)
“Eu ri muito durante o filme. Não porque estávamos tentando ser perversos, rindo de Jesus sendo destruído — violência extrema simplesmente é engraçada pra mim — e quando você ultrapassa tanto os limites da brutalidade, acaba ficando cada vez mais engraçado. A gente gemia e ria de tão absurdo que aquilo era […] O Mel fez um trabalho de direção tremendo. Ele me transportou para aquela época. Conversei com o Mel Gibson sobre isso e ele me olhou como se eu fosse um completo maluco.”
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Escola de Rock [dir. Richard Linklater] (2003)
“Foi uma época muito divertida nos cinemas. Foi uma sessão realmente divertida, divertida, divertida. Acho que esse filme teve a explosão do Jack Black combinada com o Rick Linklater e o Mike White — isso foi o que o tornou especial […] este é o mais próximo de The Bad News Bears que já chegamos.”
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Jackass – Caras-De-Pau: O Filme [dir. Jeff Tremaine] (2002)
“Esse foi o filme com o qual eu mais ri nos últimos 20 anos. Não me lembro de ter rido do começo ao fim assim desde Richard Pryor […] Enquanto eu fazia Kill Bill, achei esse filme tão incrivelmente engraçado que tive que mostrar pra equipe. Então conseguimos uma cópia, assistimos ao filme e simplesmente morremos de tanto rir.”
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Os Lobos Maus [dir. Aharon Keshales e Navot Papushado] (2013)
“Este filme tem um roteiro fantástico e uma trama parecida com a de Os Suspeitos (Prisoners) […] eles lidam com isso com coragem e ousadia — você sabe que um filme americano não faria isso […]”
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Battle Royale [dir. Kinji Fukusaku] (2000)
“Eu não entendo como o autor japonês não processou a [autora de Jogos Vorazes] Suzanne Collins por absolutamente tudo o que ela possui. Eles simplesmente copiaram o maldito livro. Críticos literários idiotas nunca iriam assistir a um filme japonês chamado Battle Royale, então esses críticos idiotas nunca a confrontaram — pelo contrário, falaram que era a coisa mais original que já tinham lido. Assim que os críticos de cinema viram o filme, disseram: ‘mas que porra é essa, isso é só Battle Royale, só que versão PG!’”
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Meia-Noite em Paris [dir. Woody Allen] (2011)
“Eu realmente não suporto o Owen Wilson. Da primeira vez que assisti ao filme, fiquei entre amar o filme e odiar ele. Na segunda vez que assisti, pensei: ‘ah, ok, não seja um babaca, ele nem é tão ruim assim.’ Aí, na terceira vez, me peguei assistindo só a ele.”
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Todo Mundo Quase Morto [dir. Edgar Wright] (2004)
“Meu filme de estreia favorito como diretor, mesmo que ele tenha feito um filme baratinho antes, do qual não gosta de falar […] Adorei o quanto ele amava o universo do Romero que recriou. O roteiro é realmente excelente, é um dos filmes mais citáveis desta lista — até hoje repito a frase ‘os cachorros não olham pra cima’. Não é uma paródia de filmes de zumbi, é um filme de zumbi de verdade, e eu valorizo essa diferença.”
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Mad Max: Estrada da Fúria [dir. George Miller] (2015)
“Na verdade, eu não ia assistir por um motivo simples: num mundo em que Mel Gibson existe, e ele não está interpretando o Max? Eu quero o Mad Mel! Semanas e semanas se passaram, e as pessoas continuavam falando como era incrível, e o Fred, meu editor, dizia: ‘Tô falando sério, você tem que ver.’ Aí eu assisti. As coisas boas são tão boas, e dá pra ver que você está assistindo a um cineasta verdadeiramente brilhante; ele teve todo o dinheiro do mundo e todo o tempo do mundo pra fazer exatamente o filme que queria.”
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Incontrolável [dir. Tony Scott] (2010)
“É um dos meus filmes favoritos de despedida de um diretor. Já vi quatro vezes, e a cada vez gosto mais. Se você me perguntasse anos atrás, eu teria colocado Chamas da Vingança na lista, mas Incontrolável é uma das visões mais puras da estética de ação do Tony. Os dois caras estão ótimos juntos, e o filme só melhora. É um dos melhores filmes de monstro do século XXI. O trem é um monstro. O trem se torna um monstro. E acaba se tornando um dos maiores monstros do nosso tempo. Mais forte que Godzilla, mais forte que aqueles filmes do King Kong.”
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Zodíaco [dir. David Fincher] (2007)
“Quando assisti Zodíaco pela primeira vez, não me envolvi tanto. Aí o filme começou a passar nos canais de cinema, e de repente eu já estava vendo 20 minutos, depois 40 minutos, e percebi que era muito mais envolvente do que eu lembrava. Ele continuava me prendendo em partes diferentes, então decidi assistir a essa porcaria de novo — e, a partir daí, foi uma experiência totalmente diferente. Percebi que, a cada seis ou sete anos, acabo assistindo de novo, e é uma experiência luxuosa à qual me entrego completamente […] uma obra-prima hipnotizante.”
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Sangue Negro [dir. Paul Thomas Anderson] (2007)
“Daniel Day-Lewis. Aquele nível de artesanato à moda antiga no filme. Tinha uma qualidade de cinema clássico de Hollywood sem tentar imitar isso. Foi o único filme que ele já fez — e eu comentei isso com ele — que não tem uma grande sequência de set piece. A cena do fogo é o mais próximo disso. Este filme era sobre lidar com a narrativa, lidar com a história, e ele fez isso incrivelmente bem. Sangue Negro teria grandes chances de ser o número 1 ou 2 se não tivesse uma falha enorme… e a falha é o Paul Dano. Obviamente era pra ser um filme centrado em dois personagens, mas também é flagrantemente óbvio que não é. O [Dano] é fraco demais, cara. Ele é o elo fraco. O Austin Butler teria sido maravilhoso nesse papel. Ele é simplesmente um cara fraco, fraco, sem graça. O ator mais fraco da porra do SAG [risos].”
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Dunkirk [dir. Christopher Nolan] (2017)
“Outro filme que, inicialmente, eu não gostei muito […] O que eu amo nele hoje é que sinto uma verdadeira maestria por trás, e passei a apreciá-lo assistindo de novo, e de novo, e de novo. Na primeira vez, não é que me deixou indiferente — foi tão impactante que eu nem soube direito o que tinha visto, era quase demais. Aí, na segunda vez, meu cérebro conseguiu absorver um pouco melhor, e na terceira e quarta vez, foi tipo: uau, isso me deixou completamente impressionado.”
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Encontros e Desencontros [dir. Sofia Coppola] (2004)
“Eu me apaixonei tanto por Encontros e Desencontros (Lost in Translation) que acabei me apaixonando pela Sofia Coppola e a tornei minha namorada [risos]. Eu a cortejei e a conquistei, e fiz tudo publicamente; parecia algo saído de um romance da Jane Austen. Eu não a conhecia bem o suficiente para conseguir me aproximar por conta própria, mas continuei indo a eventos […] Falei com o Pedro Almodóvar sobre isso, e nós dois concordamos que era um filme tão feminino, de um jeito tão delicioso. Eu não via um filme tão feminino havia muito tempo, e não via um filme tão feminino feito de forma tão impecável.”
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Toy Story 3 [dir. Lee Unkrich] (2010)
“Os últimos cinco minutos arrancaram meu maldito coração, e se eu tentar descrever o final, começo a chorar e fico com a voz embargada […] É simplesmente notável. É quase um filme perfeito. E a gente nem chega a falar das partes cômicas incríveis, que são intermináveis. Acho que quase ninguém acerta no terceiro filme de uma trilogia. Pra mim, o outro exemplo é Três Homens em Conflito (The Good, the Bad and the Ugly), e este aqui é o Três Homens em Conflito dos filmes de animação. É o melhor final de trilogia que existe.”
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Falcão Negro em Perigo [dir. Ridley Scott] (2001)
“Eu gostei quando vi pela primeira vez, mas na verdade acho que era tão intenso que acabou não funcionando pra mim, e eu não levei o filme comigo da forma que deveria […] Desde então, assisti mais algumas vezes — não muitas — mas acho que é uma obra-prima. E uma das coisas que eu mais amo nele é que […] este é o único filme que realmente vai com tudo em direção a um senso de propósito, impacto visual e sentimento à la Apocalypse Now, e acho que ele consegue alcançar isso. Mantém a intensidade por 2 horas e 45 minutos, ou lá quanto for, e quando revi recentemente, meu coração ficou acelerado o filme inteiro; ele me pegou e não me largou mais, e fazia tempo que eu não via. A façanha de direção aqui é algo além do extraordinário.”


