A empresa Tarsila SA, responsável legal pelo espólio de Tarsila do Amaral (1886-1973), confirmou a autenticidade de uma obra inédita nesta semana. “Paisagem 1925”, sob os cuidados da OMA Galeria, foi alvo de uma grande polêmica iniciada em abril deste ano. Mostrada sob reserva durante a última SP-Arte, sem ser exposta na prestigiada feira, em São Paulo, suscitou ataques de suposta falsificação.
Em entrevista à Alpha FM, o fundador e dono da OMA, Thomaz Pacheco, revelou que o processo foi “doloroso” e ameaçou o negócio. Agora, ele diz estar “em paz” para continuar. O quadro de 1925, pintado pela maior artista plástica do Brasil, tem valor de R$ 60 milhões.
A Associação das Galerias de Arte do Brasil e parte dos herdeiros de Tarsila divulgaram uma nota, mantendo a contestação. “A obra não foi submetida ao colegiado do Catálogo Raisonné [catálogo oficial de Tarsila], portanto, sua autenticidade não foi legitimamente reconhecida.”
Em outro trecho da nota, a associação diz que não reconhece validações de obras da artista “sem a participação direta de Aracy Amaral, Vera D’Horta, Regina Teixeira de Barros, Maria Izabel Branco Ribeiro e Tarsilinha do Amaral”. O quinteto elaborou a pesquisa do Raisonné, publicado em 2008, porém não faz mais parte do comitê verificador.
ENTREVISTA
Alpha: Como foi para você receber aquelas tantas contestações?
Thomaz Pacheco: “Foi bastante violento. As pessoas atacaram quase que inescrupulosamente sem ter base fundamentada, as ilações que estavam fazendo e, enfim, falas de toda ordem, de todo tipo, de todos os lados. Para uma galeria jovem, isso é muito perigoso, isso pode determinar o encerramento da atividade, o nosso mercado gira muito em torno da reputação. Então, foi muito violento e confesso que passamos períodos difíceis durante esse tempo e a prudência me fez ficar em silêncio até que tivesse uma resposta indubitável. Então, foi um período de apanhar em silêncio, muito doloroso.”
A: Antes do rebuliço, vocês não tinham procurado a Tarsila SA?
T.P.: “Antes mesmo da obra ir para a mão da certificadora oficial, vamos dizer assim, eu havia iniciado um processo de certificação, tal qual os padrões internacionais, porque a gente vai buscar onde estão as melhores referências. Eu defini o mesmo padrão para certificar a obra da Tarsila e comecei a fazer isso, mas quando surgiu a suspeição, aí a família da Tarsila veio até mim e disse, olha, nós temos um novo comitê estabelecido. Então, eles me afirmaram o processo correto é esse, é o Douglas [Quintale, perito] que preside, é o Douglas que coordena. Eu falei, ótimo, eu desconhecia isso, eu estava fazendo um processo paralelo, se você é o oficial, então vamos fazer direto pelo oficial.”
A: No início da polêmica, foi dito que a obra valia R$ 16 milhões. Por que agora ela vale 60 milhões?
T.P.: “Muita coisa que foi dita, foi dita sem a devida apuração. A verdade é que quem define o preço de uma obra é o mercado, não é o Thomaz, não é a OMA Galeria. O que a gente faz para definir o valor de uma obra dessa, a gente olha para trás, vê outras transações que foram feitas com essa mesma artista, com obras desse mesmo período ou de períodos semelhantes, vê semelhanças e distorções. Foi dessa forma que a gente chegou ao valor de R$ 60 milhões, e a obra está sendo negociada a partir desse patamar. Não é a certificação que dá ou não. Sem certificação ela não vale nada”.
Sobre a OMA Galeria e seu fundador
A OMA Galeria (R. Pamplona, 1197 – Jardim Paulista), fundada em 2014, trabalha essencialmente com o mercado primário, ou seja, com obras que saem direto de ateliês de artistas vivos. De acordo com o galerista Thomaz Pacheco, o episódio Tarsila acabou por marcar a entrada da empresa no mercado secundário, isto é, de revenda de obras.
“Através de um relacionamento que eu tinha com os proprietários dessa Tarsila, ela acabou chegando até mim e eu fiz toda essa Via Sacra de certificação que culminou agora na autenticação e que vai culminar na venda daqui a pouco. E isso marca a entrada da minha galeria no mercado secundário também, porque fruto dessa exposição toda, outras coisas vão aparecer e eu vou seguir o mesmo rito. Sempre pautado pela ética, lisura e uma conduta retilínea. Tô com o coração em paz e a cabeça tranquila”, contou à Alpha FM.
Vindo de uma família de São Bernardo do Campo-SP, Pacheco trabalhou por 11 anos na indústria automobilística, mais especificamente na Volkswagen. Morou nos Estados Unidos e na Alemanha por conta da empresa e decidiu aplicar as ferramentas de gestão no mercado de arte. “Quando voltei para o Brasil, foi coisa de pensar: qual meu legado nessa passagem? Percebi que meu legado não estaria atrelado à fábrica. Eu gostava muito da arte, fazia como hobbie e decide empreender nesse segmento e dar vazão”.
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