O brutalismo é um estilo arquitetônico originado após a Segunda Guerra Mundial. A etimologia de seu nome vem do francês “béton brut”, que significa concreto bruto. Sobretudo, suas características utilitárias, geométricas e não-ornamentais se tornam significativas para seu contexto histórico e social. Assim, o brutalismo se torna um símbolo de estabilidade, rigidez, rudimentaridade e, primordialmente, reconstrução.
É isso que “O Brutalista”, filme indicado a dez Oscars, que nós da Alpha FM tivemos o privilégio de assistir antes de sua estreia, convém ao seu público, ao menos inicialmente. O longa narra 30 anos da vida do arquiteto László Tóth, judeu húngaro e sobrevivente do Holocausto. Após a guerra, o profissional muda para os Estados Unidos, procurando mudar sua realidade após os horrores vividos.
O mais novo projeto de Brady Corbet procura narrar uma fábula ambiciosa sobre o que ele denomina de “mito americano”. E uma das primeiras cenas de “O Brutalista” já abre o escopo alegórico de sua abordagem: a estátua da liberdade, que representa esperança e emancipação americana, de cabeça para baixo.
Por conseguinte, a Alpha FM te explica como Cobert tornou seu mais novo longa em uma das mais ambiciosas produções da última década e quais foram os obstáculos que encontrou no meio do caminho.
Como “O Brutalista” se destaca?
A película de 215 minutos — aproximadamente 3h40min —, que conta com um intervalo de 15 minutos integrado, foi gravada inteiramente em 35mm com o sistema VistaVision, formato de filmagem popular nos anos 50 e amplamente utilizado por Alfred Hitchcock, mas que fora abandonado para longas-metragens completos em 1961. Dessa forma, “O Brutalista” se torna o primeiro filme em 63 anos a utilizar a técnica, trazendo uma experiência única para o cinema contemporâneo.
Evidentemente, a VistaVision é parte do motivo de como o longa é tão visualmente atrativo, repleto de cores ricas e capturas panorâmicas que poderiam ser emolduradas. Isso, combinado com o design de produção riquíssimo de Judy Becker, que faz com que o brutalismo permeie o storytelling de Cobert, faz do filme uma experiência ótica e visual quase tangível ao espectador.
Contudo, por trás de toda essa beleza está um roteiro denso, intenso e tumultuoso, assinado pelo diretor e sua parceira Mona Fastvold. “O Brutalista” vai além do trauma pós-guerra experienciado pelos seus protagonistas. Dessa forma, a história propõe diversas questões e contradições, entre o indivíduo e o coletivo, o simbolismo e a grandiosidade, o moral e o imoral, a arte e o comércio, te fazendo refletir e, propositalmente, nunca respondendo de forma objetiva aos dilemas levantados pelo enredo.
Outrossim, dentro de suas três horas e 40 minutos, temas como vício, abuso, racismo e desigualdade compõem o magnum opus de Cobert tematicamente, o que pode ser interpretado como pretensioso demais para um só filme, especialmente quando ele já é inserido em um contexto histórico e trata de um movimento artístico. No entanto, nenhum destes conteúdos se perde no roteiro ou na vastidão cinematográfica da película, pelo contrário, estes se relacionam e tecem a narrativa por completo.
Adicionalmente, é fácil se perder na magnitude deste projeto, mas isso não acontece em momento algum ao elenco encabeçado por Adrien Brody, que interpreta László Tóth – personagem ficcional, mas que carrega traços de arquitetos históricos como Marcel Breuer -, e que traz uma performance potente para as telas, dando vida a um homem autodestrutivo e imperfeito, cuja aflição pode ser sentida pelo público.
Analogamente, Felicity Jones também domina seus momentos cênicos, interpolando a fragilidade e a visceralidade de sua personagem, que também se refugia nos Estados Unidos após os horrores vividos em Dachau. Destaca-se, também, o desempenho de Guy Pearce, que explora os sentidos da tirania do oligarca Harrison Lee Van Buren, quem interpreta de forma desenvolta e por vezes cômica, mas sempre transparecendo sua cega inumanidade.
Por fim, é indispensável tratar da trilha sonora de Daniel Blumberg, um dos pontos mais fortes do longa. Blumberg acompanha o épico proposto por Cobert musicalmente, viajando pelo piano brando a orquestras deslumbrantes, remanescentes de John Williams e Alan Silvestri.
“O Brutalista” pode não ser um filme para todo mundo, ao passo que não evita o feio, a dor ou o tumulto. Mas, paralelamente, o longa é uma declaração artística de dimensão épica e que, ao mesmo tempo, encontra o humano na grandiosidade.
“O Brutalista” estreia nos cinemas brasileiros dia 20 de fevereiro e conta com distribuição da Universal Pictures Brasil.