“F1: O Filme” com Brad Pitt é épico, mas retrata bem o universo da Fórmula 1?

Em 2019, a Netflix lançou a série documental “Dirigir para Viver” em seu catálogo. A produção acompanha – com uma boa dose de dramatização, é claro – os bastidores reais do ápice do automobilismo: a Fórmula 1. A série ampliou o alcance da audiência e deu uma nova cara ao público do esporte, atraindo-o para uma geração mais jovem.

E não é por acaso. A combinação de alta voltagem, preparo extremo necessário para pilotar a maquinagem do calibre de um carro de Fórmula 1, somada ao rugido dos motores, aos bastidores estratégicos entre as equipes e, claro, ao drama e à competitividade intensa, é o tipo de conteúdo que naturalmente chama a atenção de Hollywood. Afinal, trata-se de um terreno fértil para capitalizar novas ideias e produções.

Após o sucesso estrondoso de “Top Gun: Maverick” – com prêmios no Oscar e uma bilheteria bilionária –, Joseph Kosinski reuniu sua equipe para ficcionalizar uma nova história, desta vez ambientada no universo da Fórmula 1.

Quem acompanhou a última temporada da categoria pôde notar a presença da equipe de filmagem em diversas corridas. Os protagonistas Brad Pitt e Damson Idris circularam pelo paddock ao lado dos pilotos e chegaram até a interagir com o público durante os Grandes Prêmios.

A produção promete atrair tanto os novos entusiastas quanto os fãs de longa data da Fórmula 1, ao unir realismo técnico, narrativa envolvente e uma estética cinematográfica de alto nível. Mas será que o filme entrega tudo o que promete? A Alpha te conta se essa incursão de Hollywood no automobilismo honra a tradição da categoria ou se se rende ao espetáculo.

Entre acertos e tropeços: o que não funciona em “F1: O Filme”

Primordialmente, na trama, Brad Pitt interpreta Sonny Hayes, um ex-piloto que retorna às pistas como parceiro de equipe do novato Joshua Pearce (Damson Idris), na equipe fictícia APX, a pedido de seu amigo de longa data, Ruben (Javier Bardem), que adquiriu o time e sofre pressão dos patronos, que demandam a alavancagem do time ao topo do grid.

Brad Pitt, aos 61 anos – quase duas décadas mais velho que o piloto mais experiente do grid atual, Fernando Alonso (43) – dá vida a um personagem que retorna à Fórmula 1 depois de um longo hiato desde os anos 1990. A falta de conflito ou preocupação com as transformações físicas e tecnológicas pelas quais o esporte passou nas últimas décadas faz parte da liberdade criativa da produção.

Mas a verdade é: para quem acompanha de perto o automobilismo, é importante assistir ao filme com certa suspensão de realidade. Quem busca uma representação fiel da Fórmula 1 atual pode se deparar com algumas situações, no mínimo, contestáveis.

“F1: O Filme” abraça o exagero hollywoodiano. Há acidentes pouco plausíveis, estratégias de corrida mirabolantes e relações entre equipe e piloto que soam questionáveis. De certo modo, a trama central, em seu cerne, já deixa a dramatização tomar as rédeas, como ao mostrar a equipe que ocupa o último lugar do grid brigando por vitórias – algo que o piloto brasileiro Gabriel Bortoleto, atualmente na Kick Sauber, sabe bem o quão improvável seria.

O próprio piloto da Williams Racing, Alex Albon, disse em entrevista que: “É difícil não analisar tudo com lupa e simplesmente relaxar e assistir como se fosse só um filme. Mas eu acho que, para os padrões de Hollywood, eles fizeram um bom trabalho.”

Quando “F1: O Filme” pisa fundo e entrega o que promete

O ponto alto do filme, no entanto, é outro. O grande atrativo para os fãs do automobilismo é a forma como a produção proporciona uma imersão visceral na experiência de estar dentro de um carro de corrida, com sequências eletrizantes e carregadas de adrenalina. O trabalho conjunto dos editores Stephen Mirrione e Patrick J. Smith, do diretor de fotografia Claudio Miranda e da equipe de som, resulta em cenas de altíssimo nível, com ângulos e capturas impressionantes — algo que ultrapassa o que se vê em uma transmissão tradicional. Cada tomada transmite com intensidade o risco, a excitação e a euforia de pilotar em alta velocidade.

O que torna essa experiência ainda mais impactante é o fato de que, em grande parte das cenas de pista, Brad Pitt e Damson Idris estavam realmente ao volante. Para isso, a produção adquiriu seis carros de Fórmula 2, adaptados com o suporte técnico da equipe de Fórmula 1 da Mercedes AMG, já que utilizar veículos oficiais da F1 seria impraticável, tanto pelo custo quanto pela complexidade de operação. O resultado é uma simulação cinematográfica que alia autenticidade e espetáculo.

“Toda vez que você vê Brad ou Damson dirigindo neste filme, eles estão dirigindo sozinhos em um desses carros de corrida de verdade, em uma pista de F1 de verdade. Então foi mais ou menos assim que abordamos a produção deste filme”, disse o diretor Joseph Kosinski.

Outrossim, são esses momentos, nos finais de semana de corrida em si, que, justamente, são os mais positivos, quando o fictício encontra o verídico. Assim, pode-se ver vários dos pilotos como Lewis Hamilton – que é um dos produtores do filme –, Max Verstappen, Charles Leclerc, Oscar Piastri, Lando Norris, Carlos Sainz e os chefes de suas equipes, Fred Vasseur (Scuderia Ferrari), Toto Wolff (Mercedes), Christian Horner (Red Bull Racing), nas telonas.

No elenco, quem mais se destaca é Kerry Condon, que rouba a cena como a primeira diretora técnica mulher da Fórmula 1. Sua personagem, Kate, é interpretada com desenvoltura, vigor e charme. No entanto, o roteiro recai no velho clichê das mulheres em ambientes esportivos: apesar de ocupar um cargo de liderança em um universo majoritariamente masculino, ela acaba se reduzindo a um interesse romântico do atleta protagonista, ultrapassando seus próprios limites profissionais e éticos.

No fim das contas, “F1: O Filme” oferece cenas de alta intensidade e convida o público a enxergar as corridas sob uma ótica ímpar. Mas é bom ajustar as expectativas: não se trata de um retrato fiel da Fórmula 1 real. Tire seus óculos de torcedor, torne-se leigo no assunto e deixe-se levar para realmente aproveitar a experiência na poltrona do cinema.

“F1: O Filme” estreia nos cinemas dia 26 de junho em todo o Brasil. Para saber mais sobre as estreias da semana, clique aqui. 

Confira o trailer de “F1”

Novos conteúdos

spot_img

RELACIONADOS

Relacionados