O tango nasceu no final do século XIX, nos bairros populares de Buenos Aires e Montevidéu, em um cenário marcado pela diversidade cultural. A região recebia milhares de imigrantes europeus — principalmente italianos e espanhóis — que conviviam com descendentes de africanos, crioulos e indígenas. Dessa mistura, surgiu uma linguagem musical própria, carregada de melancolia, paixão e intensidade.
No início, o tango era visto como expressão marginal, associado aos subúrbios e prostíbulos. As letras refletiam a vida cotidiana, as dores do amor e as dificuldades sociais, embaladas pelo som inconfundível do bandoneón, instrumento que se tornou símbolo do gênero. Pouco a pouco, a dança sensual e os versos poéticos atravessaram fronteiras sociais, conquistando os cafés, teatros e salões da elite portenha.
Na década de 1920, o tango se consolidou internacionalmente, com destaque para Carlos Gardel, cuja voz marcante transformou canções como El día que me quieras e Por una cabeza em clássicos eternos. Ao lado do letrista Alfredo Le Pera, Gardel ajudou a difundir o tango pelo cinema e rádio, tornando-se ícone mundial.
Já a partir dos anos 1950, o gênero ganhou nova roupagem com Astor Piazzolla, que ousou mesclar tango com elementos do jazz e da música erudita. Apesar das críticas iniciais, seu estilo inovador, conhecido como “tango nuevo”, abriu caminhos para que o gênero continuasse vivo e dialogasse com novas gerações.
Hoje, o tango é reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, reafirmando sua importância como símbolo de identidade e resistência cultural. Mais do que uma dança ou estilo musical, ele é um reflexo da história da Argentina e de sua alma apaixonada, capaz de emocionar plateias no mundo inteiro.
Esse legado está presente em Uma Noite em Buenos Aires – 50 Anos de Sucesso, considerado o maior espetáculo de tango do mundo, que retorna ao Brasil para uma temporada especial. A produção, dirigida por Manoel Poladian e Carlos Buono, celebra meio século de história e presta tributo aos grandes mestres do gênero.
O elenco reúne estrelas consagradas, como o maestro Carlos Buono, vencedor do Bandoneon de Ouro, que já se apresentou com orquestras renomadas como a Ópera de Roma e a Sinfônica Stravinsky de Moscou. O espetáculo conta ainda com o Noneto Buoníssimo, formado por virtuosos músicos que brilham nas principais casas de tango de Buenos Aires.
Nas vozes, o destaque fica para Alberto Bianco, intérprete de Gardel e Piazzolla, e Claudia Pannone, conhecida pelo projeto Gotham Project, que aproximou o tango das novas gerações. A dança também ganha protagonismo com os casais campeões mundiais Iván Romero e Silvana Nuñez e Carolina Lunardelli e Gabriel Salvi, que levam ao palco a força e a emoção do tango em cada passo.
Com música, canto e dança, Uma Noite em Buenos Aires mostra como o tango segue vivo, renovado e universal — um patrimônio cultural que resiste ao tempo e emociona plateias de todas as idades.
