O Tokio Marine Hall, em São Paulo, foi o último destino da turnê “Frejat: Ao Vivo” na noite do último sábado (27). Uma noite emocionante protagonizada pelo instrumento que consagrou Roberto Frejat como um dos grandes musicistas do país: suas guitarras. O público, que lotou até os camarotes da casa, pôde revisitar sucessos do Barão Vermelho e de sua carreira solo, além de parcerias com Cazuza e outros clássicos da música popular brasileira.
Com duração de aproximadamente 1h45min e 23 músicas no setlist, o show teve clima de celebração e despedida. No auge de seus 63 anos, o compositor mostrou vigor vocal e interpretação precisa. Ao seu lado no palco estiveram Rafael Frejat, seu filho, com quem dividiu as performances de guitarra, Bruno Migliari no baixo, Humberto Barros nos teclados e Marcelinho da Costa na bateria, todos também nos vocais.
Logo na abertura, com “Puro Êxtase”, sucesso do Barão Vermelho, airou-se uma tensão elétrica, deixando a plateia, de fato, extasiada. Em seguida vieram “Pense e Dance” e “Pedra, Flor e Espinho”, também do conjunto carioca, estabelecendo um tom nostálgico, mas vigoroso.
A seguir, o artista prestou reverência a seu maior parceiro de estrada, Cazuza (1958-1990). Neste momento, duas canções compostas em conjunto com o nosso eterno exagerado foram revividas: “Ideologia”, imortalizada no terceiro álbum solo do amigo, e “Ponto Fraco”, do álbum de estreia do Barão. Nos entremeios, ele trouxe breves relatos sobre os tempos de convivência com Agenor, composições e afinidades artísticas. Em contraste, o cantor trouxe ao show um momento blues ao apresentar “Me Dê Motivo”, escrita pela dupla Sullivan e Massadas e imortalizada na voz de Tim Maia (1942-1998), que arrancou um coral bem organizado dos fãs, que estiveram com seus celulares apontados ao palco a quase todo momento.
Ao trazer “O Poeta Está Vivo”, balada escrita por Frejat e Dulce Quental, ele retorna a homenagem ao companheiro. A faixa ganhou destaque no carnaval paulistano deste ano como base para o samba-enredo da escola Camisa Verde e Branco. O show seguiu com hits românticos bem conhecidos na sua voz como “Segredos” e “Amor Pra Recomeçar”, do seu primeiro projeto autoral fora do Barão Vermelho, lançado em 2001. O clímax veio em “Bete Balanço”, um dos maiores sucessos do Barão, na qual tirou todo público do chão ao reproduzir um de seus mais icônicos solos de guitarra, bem próximo à pista.
Ver essa foto no Instagram
Em um novo momento de tributo, ele oferece uma delicada interpretação de “Amor Meu Grande Amor”, sucesso de Angela Ro Ro (1949-2025), que morreu no último dia 8, em decorrência de uma infecção hospitalar. A canção, que já ganhou uma interpretação do Barão Vermelho em seu décimo disco, lançado em 1996, foi dedicada também à sua segunda compositora, a poetisa Ana Terra Caymmi.
Ro Ro ainda foi relembrada de forma magistral com o clássico “Malandragem”, mais uma parceria com Cazuza, datada de 1988. Inicialmente oferecida a ela, a canção só se tornaria conhecida pelo público quando foi imortalizada pela transgressora Cássia Eller (1962-2001) em 1994, tornando-se um dos maiores êxitos de sua carreira. O Barão retorna mais uma vez na pulsante performance de “Maior Abandonado”, que reafirma a guitarra como sua principal assinatura.
Em seguida, o homenageado da vez é Raul Seixas (1945-1989), em um trecho no qual “Tente Outra Vez”, “Só Pra Variar” e “Quem Não Tem Colírio Usa Óculos Escuros” são tocadas em sequência sem intervalo. Após uma pequena pausa, o cantor atende a um pedido de um fã que estava na plateia e revisita “Túnel do Tempo”, mais um sucesso de sua carreira solo.
Por fim, ele resgata o legado de Cazuza trazendo “Exagerado”, grande sucesso composto por ele, Ezequiel Neves e Leoni, e encerra o show e a turnê agradecendo à cidade de São Paulo pelo carinho com “Pro Dia Nascer Feliz”, mais um hit bem animado do Barão, que terminou com uma guitarra muito bem marcante e presente. O cantor estende a performance animada distribuindo suas palhetas à pista, enquanto o baterista Marcelinho da Costa atira suas baquetas ao palco, encerrando a despedida e assim, colocando um fim definitivo à turnê “Frejat: Ao Vivo”.
A guitarra foi, sem dúvida, a grande protagonista da noite. Em muitos momentos, a expressão única e intensa do instrumento parecia uma extensão da arte de Frejat maior que sua voz. Tecendo um importante diálogo entre passado e presente, o show transitou com naturalidade entre climas distintos, do rock mais enérgico ao blues introspectivo, passando por baladas cheias de lirismo. Algumas músicas ganharam novos contornos, com arranjos levemente reinventados, solos estendidos, pausas dramáticas e trechos de interação direta com o público, o que criou uma atmosfera de proximidade e afeto. Tudo isso, unido às luzes frenéticas do Tokio Marine Hall, que se alternaram entre o palco e a pista durante os momentos nos quais o artista chama o público para cantar com ele, trouxe uma experiência única para os fãs dessa lenda do rock nacional.


