O final de semana, dias 04 e 05 de novembro, foi de muito agito na capital paulista. Com o Grande Prêmio de Fórmula 1 acontecendo em solo nacional, no Autódromo de Interlagos, paralelamente rolava o festival GPWeek no Allianz Parque, em celebração à música. Em 2022, o GPWeek já havia contado com sua primeira edição, de apenas um dia, trazendo de headliners Twenty One Pilots e The Killers, com casa cheia. No entanto, para a segunda edição, foi anunciado dois dias de apresentações e, mesmo com nomes de peso mundial, como Kendrick Lamar e Swedish House Mafia, as vendas não foram tão bem como no ano anterior.
O sábado (04) contou com apresentações de Hodari, Jaden Hossler, Machine Gun Kelly, Halsey e, fechando a noite, o trio eletrônico Swedish House Mafia, que não vinha ao Brasil há 12 anos. Estes últimos, apesar do estrondoso sucesso no exterior, por aqui, não são atrações de grande popularidade, sem conseguir cumprir a missão de lotar o estádio como ocorreu na edição passada.
Os primeiros de sábado, Hodari e Jaden Hossler, foram os que mais sofreram o baque, apresentando-se para uma plateia pequena distribuída entre os setores Paddock (o mais caro e bem em frente ao palco, mas não necessariamente o setor com mais fãs dos artistas), pista vip box (pista premium), pista e cadeira inferior. Neste dia, a cadeira superior não chegou a ser aberta devido a pouca quantidade de ingressos vendidos, deixando então quem comprou ingresso para este setor descer para a inferior, rolando assim um upgrade.
Hossler passou grande parte do show elogiando o Brasil e, claro, deu seu melhor levando os hits da recente carreira, entre eles, “Chrome Hearted”. Machine Gun Kelly, que subiu ao palco na sequência, se apresentou para um público fiel, que cantava todas as suas músicas, tanto as da sua fase rap quanto as de pop punk, como “God Save Me”, “Bloody Valentine”, “Forget me too” e fechando com “My ex’s best friend”. MGK, diferente de Jaden, demonstrou estar incomodado com a plateia vazia e desanimada assim que deu início a uma versão em português de “Dança Kuduro” e não receber uma reação calorosa do público, parando o show para perguntar “será que eu estou nos Estados Unidos?”, fazendo referência ao baixo entusiasmo das plateias norte-americanas. O grande destaque do primeiro dia foi Halsey, mesmo não sendo a responsável por fechar a noite. Com pirotecnia e show de luzes, a artista entregou um show completo mesclando sucessos dos seus primeiros álbuns e faixas mais recentes, “Manic”, “If I Can’t Have Love, I Want Power”, “Eastside” e “Closer” (em uma versão mais rock). Com uma presença de palco impactante, Halsey elogiou o público brasileiro como um dos seus favoritos no mundo e se emocionou com o coro de “Halsey, eu te amo”.
Com leve atraso e começando após às 21h30, o trio Swedish House Mafia – formado por Axwell, Steve Angello e Sebastian Ingrosso – fechou a noite com uma entrada impactante, de muitas luzes e bastante fumaça, comum nos shows eletrônicos. Os três DJs se revezaram no microfone, interagindo com o público. Sucessos não ficaram de fora, como “Leave The World Behind” e “More Than You Know”, levando ao ápice da noite, quando tocaram a mais conhecida: “Don’t You Worry Child”.
O domingo (05), segundo dia do festival GPWeek, contou com mais pessoas ocupando o estádio do Allianz Parque, sol durante a tarde e queda da temperatura ao anoitecer. Nada impediu o público de curtir um dia memorável de shows. Os portões abriram novamente às 13 horas, e a parte externa já estava com filas de pessoas ansiosas para aproveitar o segundo dia de festival. Sendo a primeira atração do dia, as irmãs gêmeas Tasha & Tracie, que anteriormente já se apresentaram no “Rock in’ Rio” e do festival “The Town”, subiram ao palco por volta das 14h20. As gêmeas do Jardim Peri, Zona Norte de São Paulo, sendo umas das principais expoentes do rap nacional, levaram para o palco o melhor do rap e funk, sempre enaltecendo e explorando elementos da cultura brasileira, especificamente da periferia de São Paulo, onde elas cresceram. Em seu repertório, cantaram seus maiores sucessos, como: “Diretoria”, “SUV”, “TANG”, “Sou Má” (parceria com Ludmilla) e deixaram um gostinho de quero mais com “Desce Licor 43”, música de seu último álbum “Yin Yang”, lançado esse ano, em parceria com o Kyan e o Rapper Gregory.
Com um intervalo aproximado de uma hora entre os shows, Iza sobe ao palco em uma entrada triunfante. Toda poderosa, ela embala o público com canções de seu novo álbum “Afrodhit”, mas não deixa para trás seus principais hits, como “Mó paz”, “Gueto”, “Dona de Mim” e “Pesadão”. Iza esbanja simpatia conversando com o público durante o show e descendo do palco para animar as pessoas que estavam na grade.
Logo após, o duo eletrônico nova iorquino SOFI TUKKER deu um show que manteve a energia do público nas alturas. Com uma performance eletrizante e, além de elegante, o duo surpreendeu a maior parte do público, que não sabia que a cantora alemã Sophia falava e cantava algumas de suas canções em português, como “Matadora” e “Jacaré”. Sophia falou sobre sua paixão pelo Brasil e, inclusive, chamou ao palco duas artistas nacionais, a Mari Merenda e Sofia Ardessore, que foram descobertas por um vídeo musical na rede vizinha. O duo fez até uma música com as brasileiras, “Veneno”, que em breve será oficialmente lançada.
A noite esfriou mas logo o músico multi-instrumentista Thundercat subiu ao palco para agitar e esquentar o público, que já estava ansioso para ver o headliner da noite. Thundercat, baixista virtuoso, entregou tudo nessa “abertura” de show para Kendrick Lamar. O músico apresentou músicas mais populares como “Dragonball Durag” e “Them Changes”, além de hits do seu disco “It Is What It Is” como “How Sway”, que destaca a complexidade de suas composições.
Criou-se um suspense para receber ao palco a estrela da noite quando as luzes do estádio apagaram por volta das 21h27, e, claramente, a expectativa do público aumentou. E não à toa: o rapper headliner do festival Kendrick Lamar, que se tornou o primeiro artista do universo pop a receber o prêmio Pulitzer na categoria música, com seu 4º álbum “DAMN”, subiu ao palco pontualmente às 21h30 e enfileirou hits atrás de hits levando o público à loucura. Seu repertório contou com músicas de seu álbum “To Pimp a Butterfly” (tendo o Thundercat como baixista) até o mais recente “Mr. Morales & The Big Steppers”. E, claro, os sucessos de “DAMN” não ficaram de fora, “HUMBLE”, “LOYALTY” e “ELEMENT” fizeram o público delirar e cantar junto nesta noite que, definitivamente, entrou para a história, que terminou com a grandiosa “Alright”. Kendrick Lamar havia passado pelo Brasil há quatro anos, no palco do Lollapalooza em 2019. Agora esperamos que ele não demore para voltar, porque se tem uma coisa que o público sentirá saudade é de um show que mesmo sendo minimalista, foi eletrizante.
*Crédito imagem: Adriano Vizoni/Folhapress