“Adélia Prado trata de grandes problemas de jeito simples”, diz jurado do Prêmio Camões

Vista como herdeira de Carlos Drummond de Andrade, que a definiu como "lírica, bíblica e existencial", poetisa de 88 anos venceu o prêmio mais importante da literatura em língua portuguesa.

A poetisa mineira Adélia Prado, 88, venceu o Prêmio Camões de Literatura, o principal em língua portuguesa. Além da honraria, ela receberá 100 mil euros, pagos pela Fundação Biblioteca Nacional e pelo governo de Portugal.

A escritora, que há poucos dias faturou o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, é a 7ª sétima mulher a ganhar o Camões desde 1989. Ela se junta às brasileiras Rachel de Queiroz (1993) e Lygia Fagundes Telles (2005), ex-integrantes da ABL e já falecidas.

O anúncio ocorreu nesta quarta-feira (26) após uma reunião virtual do júri, formado por dois especialistas portugueses, dois moçambicanos e dois brasileiros. Um destes, o escritor e professor Deonísio da Silva, comentou a escolha à Alpha FM.

“Eu acho que o reconhecido êxito da escritora Adélia Prado vem muito mais da forma como ela foi lançada literariamente pelo Affonso Romano de Sant’Anna, que leu o original, daí levou ao Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Depois, o livro de estreia, Bagagem (1976), foi lançado com a presença de figuras ilustres, muito conhecidas, e este percurso foi sendo consolidado com outros bons livros”.

“O ponto alto da poesia da Adélia Prado é a maneira, aparentemente simples, com que ela trata de grandes problemas, das nossas inevitáveis transcendências. É difícil ser simples e, nisto, ela se desempenha muito bem”, completou o jurado.

Entre as principais obras da poetisa, além da já mencionada Bagagem, estão: O Coração Disparado (1978), Terra de Santa Cruz (1981), Oráculos de Maio (1999) e A Duração do Dia (2010).

Fim do rodízio de nacionalidades

Deonísio da Silva lembrou, porém, que houve uma quebra na alternância que vinha acontecendo no Prêmio Camões desde 2016. “Foi rompido um rodízio que não está no regulamento, mas que é dos usos e costumes do prêmio. Um ano é para um escritor brasileiro, no outro para escritor português e no outro para um escritor de uma das sete nações africanas de língua portuguesa”.

No ano passado, o ensaísta e crítico literário português João Barrento ficou com o Prêmio Camões. Antes dele, em 2022, o premiado foi o romancista brasileiro Siliviano Santiago. Última africana a levar o Camões, a moçambicana Paulina Chiziane venceu em 2021.

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