Quem conhece minimamente a trajetória de Ney de Souza Pereira, popularmente Ney Matogrosso, sabe todo o impacto cultural que o intérprete trouxe para a música brasileira, e a faixa que dá título à cinebiografia do artista consegue resumir, de forma perfeita, a mensagem do longa-metragem.
Desde sempre, Ney foi essa figura corajosa e, em muitos momentos, até jocosa com as amarras sociais e “caixinhas” que tentavam encaixá-lo. Na hora de retratá-lo nas telonas, o roteiro e a direção de Esmir Filho não poderiam ser diferentes: ousados. Não há nenhum medo de retratar o vocalista do Secos e Molhados como uma figura livre e que se mostra como uma “criatura” ao subir ao palco.
Vida pessoal e carreira
O longa-metragem é uma história de formação, em que conhecemos mais sobre a infância dele no estado do Mato Grosso, sua juventude itinerante, passando pelo Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, até a sua maturidade com a turnê “Bloco na Rua”. Ao conhecer mais sobre a vida íntima do cantor, vemos as suas maiores fragilidades, sua relação conturbada com o pai e seus diversos amores, inclusive com Cazuza.
Ao falar dos relacionamentos amorosos de Ney, Esmir é bem claro: não existe uma caixinha em que podemos colocá-lo. Suas paixões foram diversas, e a maior de todas, sem sombra de dúvidas, foi pelo palco. É ali que vemos os momentos mais vibrantes da cinebiografia.
Preparação para o filme
O trabalho de Jesuíta Barbosa também é notável, trazendo uma interpretação fidedigna e uma entrega completa ao projeto. Ao todo, o ator emagreceu 12 quilos para incorporar toda a fisicalidade de Ney Matogrosso, além de um processo longo de ensaios e convivência com o próprio biografado.
Outro ponto forte do filme é a trilha sonora. Ao todo, são 17 faixas licenciadas, passando por clássicos como “Vira”, “Sangue Latino”, “Bandido Corazón”, “O mundo é um moinho”, “Pro Dia Nascer Feliz” e, claro, “Homem com H”. Sobre esta última canção, aliás, vemos uma cena interessante, em que Ney se mostra relutante em gravá-la, mas recebe o conselho de ninguém mais, ninguém menos que Gonzaguinha. O filho de Luiz Gonzaga ainda afirma: “Quando você interpreta, ganha outro contexto.”
Os figurinos que Ney utiliza no palco também foram recriados em detalhes, com até algumas peças originais do acervo disponíveis para exibição no Senac.
A única crítica possível a se fazer a este filme é o arco temporal escolhido. Acompanhamos a história desde os anos 1950 até 2024, com a turnê “Bloco na Rua”. Com um período tão abrangente, muitas histórias interessantes precisaram ser cortadas, especialmente do início da carreira de Ney com o Secos e Molhados.
Ainda assim, “Homem com H” faz um ótimo trabalho de retratar a história dessa figura tão presente no imaginário brasileiro.
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