“Let It Be”: documentário é um retrato espontâneo dos Beatles

Produção, lançada originalmente em 1970, ganha versão remasterizada nesta quarta-feira (8) pela Disney +; saiba o que esperar

Junto de “Let It Be”, último álbum disponibilizado pelos Beatles em 1970, um filme de mesmo nome saiu à época. Inicialmente com o intuito de virar um concerto em um anfiteatro e não um documentário, a produção acompanhou o Fab Four nas gravações do disco no início de 1969 e, no fim das contas, trouxe justamente um caráter mais factual. Curiosamente após o lançamento, acabou não obtendo a reação desejada.

Isso porque, de acordo com relatos, passou uma aparente impressão negativa acerca da banda, que vivia uma série de conflitos internos, incluindo uma saída temporária do saudoso guitarrista George Harrison. Assim, nenhum dos membros compareceu à estreia e o longa ficou fora de circulação oficial.

Porém, 54 anos depois, a história é completamente outra. Em 2021, chegou a público a série “Get Back”. Dirigidos por Peter Jackson, os três episódios, que somam oito horas de duração, resgataram imagens do período e exploraram a fundo todas as questões mencionadas. Então, era a hora do injustiçado “Let It Be” também ganhar novos ares.

Por isso, nesta quarta-feira (8), a Disney + libera uma versão remasterizada do documentário, introduzido com uma pequena contextualização inédita: uma conversa entre Jackson, que trabalhou na reedição, com o diretor original Michael Lindsay-Hogg. O intuito, segundo os próprios, é oferecer uma nova visão ao projeto, descrito como “pai de Get Back”, e apagar o gosto amargo deixado tantos anos atrás. E, realmente, a versão, diante do contexto, cumpre o ideal.

A espontaneidade de “Let It Be”

“Let It Be” nada mais é do que um retrato espontâneo dos Beatles. De fato, ao longo das quase 1h30, o público acompanha de perto (ainda que de um modo sucinto) as discordâncias e os conflitos entre os integrantes. Mas o documentário vai muito além do que qualquer “intriga”.

As imagens foram capturadas de maneira despojada. Não havia preocupação com a polidez dos cenários (no caso, o Twickenham e a Apple Studios), com as sombras causadas pelas luzes, com uma estética atraente. É como se, quem estivesse assistindo, visse de maneira crua o processo de criação dos Beatles, com todas suas imperfeições que o tornaram perfeitos.

Em meio às sessões de composição, há momentos descontraídos, de risadas, de piadas, de gracinhas. George levando um choque no microfone, Ringo Starr quase caindo de seu banco, Yoko Ono e John Lennon dando uns amassos e dançando ao som de “I Me Mine”. Há também Heather, filha de Paul McCartney e da então companheira Linda, “invadindo” as gravações, brincando com o pai e com seus parceiros profissionais.

Ainda, há o tecladista Billy Preston divertindo-se, como também chamados incessantes pelo empresário Mal Evans. Para completar, há uma explicação sobre “One After 909” e “Let It Be” e “The Long and Winding Road” com Macca no piano olhando certeiramente para as câmeras – numa troca tão direta que arrepia. Sobretudo, há a química musical intensa que o levaram ao topo do mundo. Não é á toa que, ainda hoje, nada mudou.

Claro, quem viu “Get Back” identificará a semelhança de qualidade visual. Sem dúvida, as cores aparecem mais vívidas e os detalhes são percebidos com mais minuciosidade. Aliás, a restauração, que incluiu o som como observado no tópico a seguir, aconteceu a partir do negativo original de 16 mm.

Show no terraço

O grand finale morou no concerto realizado no terraço da Apple Corps – a última apresentação dos Beatles – , em uma qualidade sonora irretocável e imersiva. É a maneira perfeita de coroar algo tão genuíno, já que tudo naquele dia parecia incontrolável: o vento no cabelo de John, o frio que congelavam suas mãos, a vizinhança irritada pelo barulho no horário comercial, a polícia tirando satisfação, os olhares de divertimento de cada um dos Garotos de Liverpool, a execução de algo que mudou o mundo. Basicamente, é a síntese de tudo mostrado antes.

“Eu gostaria de agradecer em nome do grupo e de nós mesmos e espero que tenhamos passado na audição”, pronunciou Lennon em tom bem humorado. Característica, a frase marcou o encerramento da performance, de uma era, de “Let It Be”. Não havia maneira mais simbólica de concluir a narrativa.

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