É difícil colocar em palavras o que é o documentário “Milton Bituca Nascimento”. Com produção do Canal Azul, Gullane, Nascimento Música e Claro, o longa-metragem retrata a turnê de despedida do cantor dos palcos e traz depoimentos com nomes gigantescos da música nacional e internacional, além de imagens de tirar o fôlego.
A Alpha FM assistiu em primeira mão ao lançamento que chega aos cinemas no dia 20 de março, e te conta o que esperar do filme!
Construção do roteiro
Apesar de Milton ser o protagonista desta história, quem realiza a narração do documentário é ninguém mais, ninguém menos do que Fernanda Montenegro. Ela empresta a sua voz enigmática e torna-se o fio condutor da narrativa.
O texto do roteiro segue uma linha poética, bebendo da água da discografia de Milton e ainda trazendo referências como o grande escritor brasileiro João Guimarães Rosa. Temos diversas citações interessantes, como: “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”, do clássico “Grande Sertão: Veredas”, de 1956.
Além disso, o documentário usa e abusa das entrevistas de peso. Nomes como Djavan, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Mano Brown, João Bosco e Sérgio Mendes são somente alguns dos diversos depoimentos recolhidos.
Infância em Minas Gerais
Nascido no estado do Rio de Janeiro, Bituca perdeu a mãe biológica muito cedo e foi adotado por um casal branco. A partir daí, começa a sua infância em Minas Gerais, sua verdadeira terra natal, que influenciou muito nas suas composições. Sua mãe, Lília Silva Campos, era professora de música e convivia com o icônico Villa-Lobos. Milton ainda confessa que seu pai morria de ciúmes do maestro.
Outra curiosidade mencionada é que Milton reprovou na aula de canto na época do colégio. No entanto, atualmente ele é considerado PhD pela Berkeley College, a maior referência dentro do ensino superior na área da música.
Turnê de despedida pela Europa e Estados Unidos
Apesar de ter lotado estádios pelo Brasil, o ponto de partida do filme são os shows de Milton pela Europa e Estados Unidos. Ele passou pela Espanha, Portugal, Reino Unido, Itália e Estados Unidos, atraindo tanto o público brasileiro saudoso da sua música, quanto estrangeiros que não entendem nenhuma palavra em português cantada pelo artista.
São nestas viagens, inclusive, que foram gravadas diversas entrevistas internacionais como Paul Simon, Quincy Jones, Pat Metheny, Herbie Hancock e Esperanza Spalding.
A artista, inclusive, lançou recentemente um disco em parceria com Bituca, que recebeu indicação ao Grammy Awards 2025. A Alpha FM entrevistou a artista para conversas sobre o projeto. Clique aqui para conferir o conteúdo na íntegra.
Jazz ou MPB?
Uma das grandes discussões propostas pelo filme dirigido por Flavia Moraes é: qual o gênero musical que o cantor se encaixa? E a resposta é: nenhum e todos. Apesar de trazer muita inspiração do estado em que ele cresceu, Minas Gerais, Milton retrata sentimentos universais de uma forma visceral.
Dentro do cenário mundial, no entanto, diversos nomes do jazz reverenciam o trabalho do compositor e o utilizam como inspiração. Essa relação já é antiga, levando em conta que em 1974, Wayne Shorter realizou uma parceria com o cantor brasileiro no seu disco “Native dancer”. O documentário mostra, inclusive, o encontro entre eles e até uma frase impactante de Wayne em que ele afirma: “Só há um Milton e só há 1 Miles Davis”, equiparando os dois artistas em importância.
Clube da Esquina
A linha condutora do documentário é a turnê de despedida, mas é impossível não falar de Milton Nascimento sem mencionar o disco “Clube da Esquina”, de 1972. Durante o seu último show em Belo Horizonte, o cantor comenta com muito orgulho que o álbum foi eleito, naquele ano, como o melhor disco da música brasileira.
A película deixa muito claro como o projeto foi um acontecimento, e como os músicos parceiros, Beto Guedes, Lô Borges e Toninho Horta, precisavam ter participado do disco para obtermos o resultado final que marcou a história da indústria fonográfica não só nacional, como mundial.
Racismo e depressão
Mesmo sendo uma figura reverenciada na música internacional, Milton enfrentou muita resistência dentro do Brasil, e precisou passar por diversos obstáculos por conta do racismo. “Milton Bituca Nascimento” traz uma pincelada deste assunto, mencionando especialmente o episódio da década de 90, em que o artista enfrentou um quadro severo de depressão e chegou a pesar 38 quilos.
Muitas pessoas naquele momento acreditavam que ele havia contraído AIDs, mas na realidade era o seu sofrimento que o levou a um processo de autofagia.
Simone, por exemplo, comentou a respeito deste episódio e afirmou: “ele vai até o fim do poço e volta, parece que tem mola lá, no fundo”.
A voz que ecoa
Uma presença etérea na música, a sonoridade criada por Milton vai ecoar na eternidade e pode ser resumida por uma frase dita por Fernanda Montenegro: “Quantos Brasis cabem dentro de um Milton Bituca Nascimento?”.
Sem sombra de dúvidas, o longa-metragem é uma das melhores produções feitas nos últimos anos, e é perfeita para qualquer pessoa completamente apaixonada por música.
Confira o trailer abaixo:
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