O cinema brasileiro, recentemente, está sob os holofotes da mídia internacional com a chegada de “Ainda Estou Aqui”, novo filme de Walter Salles, aos principais festivais do setor audiovisual. O projeto conta com o protagonismo de Fernanda Torres e retrata a luta da família Paiva após o desaparecimento misterioso de Rubens Paiva. A Alpha marcou presença nesta sexta-feira (18) na coletiva de imprensa e te conta tudo o que você precisa saber sobre o projeto:
Sobre o que “Ainda Estou Aqui” fala?
“Ainda Estou Aqui” retrata a história da família Paiva, especialmente de Eunice. A mãe de Marcelo Rubens Paiva precisa juntar forças após seu marido, Rubens, ser levado pela Ditadura Militar e desaparecer. Sem saber sobre o paradeiro do marido, Eunice assume o papel de cuidar de 5 filhos.
Inspiração na obra de Marcelo Rubens Paiva e o roteiro do filme
Em 2015, o escritor e jornalista Marcelo Rubens Paiva publicou “Ainda Estou Aqui”, um livro de memórias em que ele faz um retrato da sua família. Desde então, Walter Salles, responsável por sucessos como “Central do Brasil” e “Terra Estrangeira”, se interessou pela obra literária e decidiu produzir uma adaptação cinematográfica.
Foram 7 anos de idealização para o projeto conseguir chegar às salas de cinema e muitas mudanças aconteceram neste caminho. A principal delas, sem sombra de dúvidas, foi a decisão de mudar a protagonista da obra. No livro, temos a visão de Marcelo, já no filme, conhecemos mais a fundo quem foi Eunice.
Em entrevista coletiva, Salles compartilhou que foram realizadas diversas entrevistas com Marcelo, suas irmãs e até amigos antigos do casal. A partir daí, novas ideias começaram a surgir para contar essa ideia. Sem falar que, durante a adolescência, o cineasta foi amigo pessoal da irmã mais velha de Marcelo e contou com sua própria experiência e memória para construção do projeto.
Apesar de ser um trabalho coletivo, o escritor compartilhou que o processo de escrita do roteiro foi muito tranquilo: “Nunca discordamos de nada. Era mágico. Foi um encontro mágico, de todas as formas”, comentou o autor de “Feliz Ano Velho”.
Eunice Paiva como protagonista da obra
No início do filme, vemos Eunice como uma simples dona de casa apaixonada pelo marido. Contudo, tudo muda quando em uma noite qualquer, Rubens precisa prestar depoimento aos militares e nunca mais volta. A própria Eunice passa por um interrogatório longo, junto com sua filha de 16 anos, Eliana. As duas sobrevivem, mas ainda assim uma cicatriz permanece no seio deste núcleo familiar e uma pergunta: quando vão soltar o Rubens?
Esta é a pergunta que a personagem de Fernanda tenta responder incessantemente. Com todos os seus planos jogados pela janela, a matriarca precisa assumir as responsabilidades totais do lar e ainda decide retornar à faculdade de direito.
“Uma mulher única. Uma mulher que nunca fez questão de ser reconhecida, de aparecer. Ela sai de viúva de Rubens Paiva para a mãe do Marcelo Paiva, movendo revoluções de uma maneira sempre digna. Ela teve uma resistência persuasiva, sabe?”, comenta a atriz responsável por sucessos como “Os Normais” e “Tapas e Beijos”.
Retrato da Ditadura Militar de 1964
A Ditadura Militar de 1964 permeia toda a narrativa de “Ainda Estou Aqui”. No início do longa, por exemplo, a filha mais velha, Vera, sofre uma abordagem violenta em uma blitz militar. Apesar do contexto histórico, não temos grandes explicações sobre as movimentações políticas do momento, muito menos todos os motivos por trás da prisão e morte de Rubens Paiva.
O roteiro dá algumas pistas das movimentações do marido de Eunice, no entanto, em momento entendemos o real envolvimento do engenheiro com a resistência contra o regime. Entretanto, somos tocados pelo sofrimento desta família e entendemos a brutalidade deste período na história do Brasil. Tudo sem precisar de muitas palavras.
Participação de Fernanda Montenegro
Além de termos duas estrelas absolutas do cinema, Fernanda Torres e Selton Mello, no protagonismo do longa-metragem, a aparição de Montenegro no filme despertou curiosidade. Contudo, mesmo com uma participação curta, de apenas 5 minutos, a atriz indicada ao Oscar na categoria Melhor Atriz entrega uma performance memorável como uma Eunice na maturidade lidando com a doença de Alzheimer. É ela, aliás, que traz o encerramento do filme, de uma forma sensível e tocante.
“Ainda Estou Aqui” chega aos cinemas no dia 7 de novembro. Relembre o trailer abaixo:
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