Por: Tamires Cioffi
Parceiro da Alpha, sempre presente em nossos projetos e shows, Wilson Simoninha mergulhou no lirismo swingado de “Correnteza” (1968) para reverenciar os 20 anos de falecimento do pai, Wilson Simonal (23 de fevereiro de 1938 — 25 de junho de 2000). Lançado como single nas plataformas digitais com registro visual intimista no YouTube, o tributo se sobressai por execução de Antonio Adolfo ao piano, dupla com Tibério Gaspar (1943-2017) na composição interpretada originalmente pelo homenageado.
Faixa de compacto distribuído pela gravadora Odeon nas versões simples e dupla, “Correnteza” é contemporânea da “toada moderna”, espécie de subgênero pontificado por aqueles dois letristas cariocas na virada de 1967 para 1970. O fenômeno se caracteriza por ter irrompido harmonias da bossa e do jazz na MPB, o que resultou em preciosidades de um cancioneiro melódico e poético com pegada pop.
O suingue associado ao Simonal, entendido pela união entre malícia, carisma e técnica vocal, confere ainda o estilo festivo à obra de Antonio e Tibério. “Assimilei esse jeito de cantar quando tocava com o Simonal. Os arranjos das músicas dele, assinados pelo César Camargo Mariano, também traduziam essa animação”, explica Antonio. A subjetividade da obra do compositor é evidenciada em estrofe inicial de “Correnteza”: “Tarde mansa / Sol avança pra morrer no cais / Derrama luz pela beira-mar / Vela branca solta ao vento é sinal de paz / De vez em quando é dor”.
Na nova construção melódica, o solo de gaita do harmonicista Gabriel Grossi revisita um dos marcos da carreira do Simonal. “Quis evocar Stevie Wonder por ter projetado na década de 1970 o primeiro popstar negro da música brasileira no exterior, com versão de Sá Marina em inglês, intitulada Pretty World”, entrega Simoninha, que também assina a direção musical da releitura. A escolha de uma faixa “lado b” fugiu ao óbvio na homenagem. “Apesar de ter repercutido nas rádios, Correnteza ficou à esteira do sucesso estridente de Sá Marina”, lembra o herdeiro.
Confira:
Não à toa, “Sá Marina” (1968) colocou Simonal na boca dos brasileiros e o apresentou ao mundo. É também considerada o auge da parceria construída entre os compositores. “Tenho muita gratidão por esse que é um dos grandes cantores do nosso país. Ele abriu portas para nossas canções por uma via mais popular”, assinala Antonio. Integrante do grupo de música instrumental Trio 3D, Antonio acompanhou Simonal em shows no Beco das Garrafas entre 1964 e 1965. A travessa no bairro de Copacabana abrigou conjunto de casas noturnas, de onde o homenageado despontou para a carreira nacional.
A discografia de Wilson Simonal acumula mais de 30 títulos gravados. Ele fez turnês e mega apresentações pelo Brasil e excursionou pelo mundo. Simonal acompanhou a Seleção Brasileira de Futebol na conquista do tricampeonato da Copa do Mundo no México em 1970, há exatos 50 anos completados essa semana. Além de ter lançado o álbum “México 70” e feito temporada de shows nesse país. Foi também apresentador de programas musicais na TV brasileira.
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A trajetória do ilustre carioca vai além da cultura. É a história da alma brasileira vista e revisada constantemente por livros, musicais em teatro, documentários e longa-metragem ficcional. “Um cara tão atacado e apagado da memória da música brasileira”, reflete Simoninha. “Ele ser reverenciado hoje em dia é para nós, a família, e todos aqueles que nunca o abandonaram, uma vitória conquistada com muita luta e amor”, acrescenta. Reestreia da turnê “Baile do Simonal 2”, disco de remixes e álbum de duetos são algumas das próximas homenagens.