Em um momento em que o mundo atravessa uma crise pandêmica, a saúde fica ainda mais em destaque. Criado em 1948 pela Organização Mundial da Saúde, o dia 07 de abril é celebrado o Dia Mundial da Saúde e, mais do que nunca, neste momento é preciso falar sobre a situação do novo coronavírus.
O objetivo da data é a conscientização da população a respeito da qualidade de vida e dos diferentes fatores que afetam a saúde populacional.
Atualmente, o Brasil registra mais de 330 mil óbitos pela propagação da Covid-19 e os profissionais que estão lidando diretamente com o enfrentamento da doença trabalham há mais de um ano na luta para salvar vidas.
Roberto Debski, médico e psicólogo que atua no Pronto Socorro Unimed de Santos, atua na linha de frente da doença desde o início da pandemia, e conta que neste momento, em que há o aumento do número de casos e de maior complexidade, a dificuldade de conseguir vagas em leitos, tanto de enfermaria, como de UTI tem sido muito difícil. “Os pacientes, muitas vezes, têm de ficar por muitos dias no pronto-socorro até que possamos conseguir vaga para internação”, relata o médico.
Assim como Debski, Mohamad Said Ghandour, cardiologista do Hospital Beneficência Portuguesa, também destaca a preocupação com a escassez de leito e o receio de desabastecimento de medicamentos e oxigênio, além de mão-de-obra especializada para o atendimento de casos complexos. “Montar um leito de UTI, talvez seja muito mais simples do que conseguir uma equipe de profissionais capacitados para dar assistência aos pacientes”, destaca Mohamad.
O dia a dia desses heróis da saúde não são fáceis, segundo o médico Roberto Debski, é necessário preparo técnico, físico, disponibilidade de tempo, de energia e manter o foco e a tranquilidade para continuar ajudando da melhor maneira possível.
“Além de não dormir corretamente, aprendi e aprimorei meu sistema emocional que está se sobrecarregando a cada plantão. A maior mudança na minha vida e que refletiu na minha família foi não poder visitá-los com frequência”, conta do enfermeiro infectologista do Hospital HSANP, Milton Alves Monteiro Junior, e que acrescentou dizendo que foi necessário aumentar novamente a carga horária no hospital.
Desistir não é uma opção para os profissionais de saúde que estão lidando diretamente com a doença, apesar de toda a abdicação e cansaço. “Não pensei em desistir, foi e continua sendo um grande aprendizado lidar com o conhecimento científico e lidar com o ser humano”, conta Milton.
Já o médico geriatra, responsável técnico da Rede Humana Magna, Eduardo Dias, conta que pensou muitas vezes em desistir, que as perdas levam os profissionais ao limite, passando muitos dias tristes, mas que, ao ver o colega de profissão ou o paciente precisando de ajuda, é preciso se levantar e seguir em frente. “A força vem da missão de cuidar do outro. E de muita terapia também para lidar com o nosso próprio isolamento quando estamos em casa”, Eduardo declara.
A batalha pela vida traz memórias que jamais serão esquecidas na vida dos profissionais. O geriatra conta que já teve dias muito difíceis na profissão, mas uma das mais marcantes foi quando a rede em que trabalha decidiu, por segurança dos pacientes, que não seria possível mais ter os cuidadores por perto. “Eu fiquei com a missão de comunicar a decisão às famílias. Foi muito difícil. Ouvi barbaridades como se eu fosse algoz, como se eu estivesse punindo as pessoas. Quando, na verdade, justamente o que queríamos era garantir a saúde de todos ali”.
O enfermeiro infectologista, Milton Alves Monteiro Junior, conta que acompanhar a falta de sedação tem sido muito difícil e que acompanhar o desespero dos médicos, enfermeiros e fisioterapeutas e, principalmente, acompanhando os pacientes que, possivelmente, acordarão com um tubo orotraqueal. “Isso me marca todos os dias”, desabafa.
O momento não é para festas ou aglomerações. É preciso se prevenir para que em breve, seja possível voltar ao normal e que os abraços possam existir e serem ainda mais apertados. Os profissionais deixam um recado importante para as pessoas.
O médico Roberto Debski alerta que não é momento de desistir dos cuidados e que é preciso que cada um faça a sua parte. “Sei que todos estão cansados de manter isolamento e distanciamento, há a situação dramática do comércio, o acometimento de sintomas e doenças emocionais como ansiedade, depressão, estresse agravados pela pandemia, que também é um problema grave a ser cuidado.”
Mohamad Said Ghandour, alerta que usar máscaras, evitar aglomerações e ter cuidados de higiene pode salvar milhares de vidas. “A falsa impressão de que a doença só acomete os mais debilitados tem que ser combatida, vimos uma explosão de casos e mortes em jovens, muitas vezes sem comorbidades.”
A empatia e colocar-se no lugar do outro é o destaque do enfermeiro Milton. “É o respeito ao próximo, levando isso como valorização a todos os profissionais de saúde que estão exaustos, sem contato com suas famílias, com folgas reduzidas e sem feriados.”
Eduardo Dias, médico geriatra, destaca que é preciso pensar que, ao se cuidar, o próximo está sendo cuidado. “Muitos acham que ao não se cuidar, o único prejudicado é você. Quando na verdade, você prejudica várias outras pessoas. E isso é grave. Cuidar de si é cuidar do outro também. E esse exercício de empatia tem sido cada vez mais necessário. Espero que a gente saia diferente dessa experiência. Que pensemos mais no outro sempre.”