Elza Soares enaltece força feminina: “É a nossa qualidade”

Dona de voz potente, Elza da Conceição Soares deu os primeiros passos na música ao lado do pai, com apenas cinco anos de idade. Na adolescência, aos 13, participou de um programa de calouros na Rádio Tupi, sendo a primeira vez que cantou em público. 

Carioca, negra e nascida em Moça Bonita (atual Vila Vintém), a história da artista é símbolo de luta e força da mulher. Na faixa dos 20, Elza já havia velado dois filhos e o primeiro marido. Em meio às dificuldades e com mais cinco crianças para criar, ela seguiu firme, conseguiu se aventurar no meio artístico e, como ela mesma diz: "Já nasceu com história". 

A artista sempre foi chamada de rainha do samba e, agora, aos 90 anos, vive seu auge. Com um público que a vê como ícone do feminismo, foi homenageada no último Carnaval pela escola de samba carioca Mocidade Independente de Padre Miguel, quando sua história virou enredo. Elza relembra com carinho, comemorando-a. "A história é forte. Qualquer mulher ficaria feliz da vida como eu fiquei. É muito forte, muito bonito". 

É com esse poder que ela acaba de lançar o single "Nós", pela gravadora Deck, neste Mês da Mulher, em homenagem à força feminina. Assim como nos últimos álbuns, "A Mulher do Fim do Mundo", de 2015,  e "Deus é mulher", de 2018, no mais recente trabalho, ela se mostra incansável, levando na voz a luta de um povo, povo este em que ela faz parte. "Ser uma mulher negra no Brasil é ser uma mulher no mundo. Somos capazes de criar, capazes de tudo o que acontece. A criação do mundo vem de nós mulheres. Somos isso", diz a cantora. 

Com o projeto "A Mulher do Fim do Mundo", a artista conquistou o Grammy Latino de "Melhor Álbum de MPB", concorrendo ao título com grandes artistas, como Roberta Campos, Roberta Sá e Celso Fonseca. O trabalho foi considerado um dos dez melhores álbuns de 2016 pelo conceituado jornal americano "The New York Times" e, foi nele que ela conseguiu dar voz à violência que sofreu anos antes. O disco traz críticas ao racismo, e ressalta a luta feminista no Brasil. Além do Grammy, o álbum levou naquele ano o Troféu APCA da Associação Paulista de Críticos de Arte e o Prêmio da Música Brasileira, entre outras indicações.

Elza diz que em todos os projetos que faz, busca palavras que trazem conforto e empoderamento à mulher. Ela, que venceu traumas e dificuldades, faz do trabalho sua fortaleza, sendo uma sobrevivente e dando voz a outras pessoas que enfrentam os mesmos problemas que passou lá atrás. "Precisamos nos unir, para continuar vencendo, lutando e buscando o que é nosso por direito.  Nós mulheres já nascemos com o dom de sermos o que somos, fortes, guerreiras, lutadoras… e conseguimos tudo isso viu, gente. Isso não é uma qualidade só minha, é qualidade da mulher. A mulher nasceu com essa qualidade de ser o que é", conta.

Eleita pela BBC de Londres em 1999 como "a cantora brasileira do milênio" e vinda de uma época em que as mulheres não tinham lugar de fala na sociedade, Elza reforça que a revolução feminina ainda não acabou, que há muito o que conquistar ainda. “Foi difícil, minha gente. Não estamos no ponto de parar. Temos que caminhar e caminhar muito ainda viu…”, diz. 

Para os que perguntam à artista qual é o segredo da sua admirável jovialidade, ela ressalta: Perseverança: “Continuo com ela [perseverança] sempre. Mas, também, antes de tudo… amor. Quando se tem amor a você, amor próprio, amor à vida. Tudo acontece de bom”. 

Ouça abaixo o trecho da nossa conversa com a cantora:

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