Ladrões: Austin Butler enfrenta o punk rock caótico de Darren Aronofsky

Por Valentine Boutsiavaras 

“Ladrões”, novo filme de Darren Aronofsky que estreia nesta quinta-feira (28), é uma surpresa para quem já conhece o estilo do diretor.

Se antes Aronofsky se apoiava em narrativas pesadas, como em “Réquiem para um Sonho”, “Cisne Negro” e “A Baleia”, aqui ele se arrisca no punk rock: o filme é caótico, cheio de movimento e energia que não dá trégua, impulsionado pela trilha da banda IDLES. É quase como se o novo Superman de James Gunn estivesse ali, cantando “Punkrocker”, do Iggy Pop, enquanto corre pelas ruas de Nova York.

Hank Thompson (Austin Butler) já foi um fenômeno do beisebol no colégio, mas hoje leva uma vida comum em Nova York: trabalha como barman, namora Yvonne, personagem de Zoë Kravitz, e acompanha empolgado a boa fase do seu time. Tudo parece tranquilo até que seu vizinho, Russ (Matt Smith), pede um favor simples: cuidar de seu gato por alguns dias. A partir daí, Hank é arrastado para uma rede de criminosos estranhos e perigosos. O problema? Ele não tem ideia do que eles querem dele.

Entre muitas perseguições, lutas violentas, armas apontadas e um gato que parece ser o fio condutor de todas as histórias no filme, Hank tenta sobreviver, proteger quem ama e, ao mesmo tempo, lidar com as sombras do seu passado que nunca deixaram de persegui-lo.

Austin Butler carrega o filme nas costas. Não porque lhe falte apoio do elenco ou por uma fragilidade de roteiro, mas porque sua presença consegue transformar até a menor das cenas. O ator, que vem colecionando grandes títulos em sua filmografia, como “Elvis” e “Duna 2”, consegue deixar de lado a imagem do astro do rock e do impiedoso Feyd-Rautha e mergulhar em Hank Thompson, um personagem frustrado, vulnerável e caótico. E é a sua entrega que sustenta o roteiro movido a constantes reviravoltas.

Um Aronofsky diferente 

“Ladrões” surpreende vindo de Darren Aronofsky. Aquele peso sufocante típico do diretor não aparece da mesma forma. A tensão está presente, mas ganha companhia do humor – às vezes exagerado –, mas essa leveza nunca dura muito tempo, afinal, Aronofsky ainda é Aronofsky, e aqui ele brinca com esse choque de tons: em um momento o espectador está rindo e, no seguinte, se vê encarando a brutalidade explícita de uma emboscada. Ou seja, nunca é seguro relaxar – o que o personagem de Austin Butler aprende muito rápido na trama. 

Apesar do enredo inicialmente simples – Hank simplesmente aceita cuidar do gato do vizinho –, o filme vai revelando camadas de tensão e perigo. Cada nova reviravolta só reforça a sensação de que estamos presos com ele, sem entender direito o que está em jogo até que seja tarde demais.

O “Aronofsky punk” de “Ladrões” pode dividir opiniões. Alguns vão enxergar apenas um caos estilizado; outros, se divertir pela atmosfera desequilibrada do filme. Mesmo misturando o humor e a brutalidade, o fato é que Aronofsky continua fiel à sua vocação de provocar e desconcertar o público. E Butler mostra mais uma vez por que se tornou um dos atores mais interessantes da sua geração, sustentando um filme intenso, cômico, violento – e, ao mesmo tempo, sensível, um caos perfeitamente equilibrado.

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