Maria Callas: o retrato comovente de uma tragédia grega

“Maria Callas” é o mais novo projeto do cineasta chileno Pablo Larraín. Similarmente às suas outras produções, no longa, que estreia nos cinemas brasileiros dia 16 de janeiro, o público é convidado a abstrair momentos e dilemas na vida de figuras femininas que marcaram, de alguma forma, a cultura popular. 

Assim como o título da película revela, a escolhida da vez é Maria Callas, soprano greco-americana conhecida pela técnica lírica delimitada como bel-canto. Elencada para a interpretação da cantora está Angelina Jolie, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu desempenho em “Garota Interrompida” (2001). 

Construção biográfica 

Sobretudo, é importante ressaltar que o filme não é, de forma alguma, uma cinebiografia linear. Em suma, o longa deixa claro sua intenção em seus primeiros minutos: retratar os últimos dias da vida de Callas como uma crônica cinematográfica, em tom elegíaco e poético, que penetra o filme visualmente por meio de sua fotografia primorosa. 

Então, os momentos em que o passado de Maria é abordado acontecem por meio de flashbacks – filmados em preto e branco -, que, por sua vez, se mesclam à insanidade da personagem. Isto é, os últimos dias da artista são retratados entre seus dois opostos psíquicos; um é de uma mulher se agarrando ao controle e à liberdade que nunca tivera ao longo da vida, e o outro é a ciência que a mesma tem de seu estado mental deficiente, totalmente desregulado por medicamentos hipnóticos e sedativos. 

Ao decorrer do filme, a realidade e o que a personagem chama de “visões” se tornam uma história só, quase codependentes, para que o público entenda o que levou Callas para seu estado quase enfermo. 

No entanto, por mais que o longa seja, inevitavelmente, trágico, existem momentos de leveza, onde o espectador pode até dar uma risadinha. A relação de Callas com as únicas pessoas que a rodeiam, sua governanta (Alba Rohrwacher) e seu mordomo (Pierfrancesco Favino), é terna e complexa – retratando o abismo entre a relação empregador-empregado e a amizade quase fraterna entre os personagens. 

Ainda mais, figuras históricas como o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy e sua esposa, Jackie, se infiltram na trajetória de Callas, que ao longo da vida se apaixona por Aristóteles Onassis, um dos empresários mais ricos da época. 

Angelina como La Callas 

Paralelamente, é impossível não ressaltar o desempenho de Angelina Jolie como Maria Callas. Angelina demonstra completo entendimento da situação em que sua personagem se encontra; seja em momentos de delírio, de afeto ou de descarga emocional, a atriz assombra o público de forma compreensiva e comovente, fazendo com que o espectador crie uma relação de empatia com a protagonista. 

Em suma, Jolie captura sublimemente a história de uma mulher incapaz de curar seus próprios traumas, que permearam sua vida e profissão, por meio da música, algo que ela persiste em alcançar até seu último suspiro.

Ao mesmo tempo, nos momentos que passeiam, de forma súbita, entre o passado e o infortuno presente do longa, a intérprete conduz e transmite as sensações que ela mesmo descreve como “exaltações” que teve no palco – onde ela achava que o local “iria pegar fogo” -, assim como seu oposto, em momentos de fraqueza e dor, onde a cantora é incapaz de executar sua paixão como vocalista. 

Assista ao trailer

“Maria Callas” estreia em cinemas de todo o Brasil na próxima quinta-feira, dia 16 de janeiro, com distribuição da Diamond Films Brasil.

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