Mickey 17: Bong Joon-ho, diretor de “Parasita”, embarca em uma provocativa jornada de ficção científica

Em 2019, “Parasita” estreou no Festival de Cannes e conquistou a Palma de Ouro, a distinção máxima concedida pelo júri da mostra. Naquele momento, Bong Joon-ho – roteirista e diretor do longa – não imaginava o impacto transformador que sua obra teria na indústria cinematográfica. Posteriormente, o filme foi premiado com quatro estatuetas no Oscar, incluindo a de Melhor Filme, tornando-se a primeira produção de língua não inglesa a realizar tal feito.

Seis anos depois, a expectativa pelo futuro de Bong Joon-ho no cinema se concretiza com a estreia mundial de seu mais novo projeto, “Mickey 17”, que finalmente chega às telonas ao redor do globo este ano.

O filme mantém o tom de humor ácido e crítica social de “Parasita”, no entanto, adentra outro universo, literalmente.

Na produção – que adapta a obra literária “Mickey7” de Edward Ashton -, Robert Pattinson interpreta um “descartável”, um humano cujo material genético é copiado e reimpresso após sua morte. Seu personagem integra uma missão interestelar destinada a colonizar um novo planeta, liderada por um ditador. Como parte desse processo, Mickey é enviado para enfrentar os perigos deste território inexplorado.

A Alpha FM teve o privilégio de assistir “Mickey 17” exclusivamente antes de sua estreia e te conta o que esperar dessa aventura que mescla sci-fi com críticas sociopolíticas.

Os altos e baixos do novo universo de Bong Joon-ho

Pode-se argumentar que o êxito de “Parasita” se deve ao seu retrato visceral e desconfortável da diferença de classes e da desigualdade social. “Mickey 17” se propõe a fazer algo muito parecido, mas abraçando a ficção científica como uma odisseia excêntrica e, claro, contando com um orçamento robusto de 118 milhões de dólares.

O elenco — liderado por Robert Pattinson, já citado, e composto por Naomi Ackie, Mark Ruffalo, Toni Collette e Steven Yeun — aposta em uma atuação maximalista, carregada de teatralidade.

O grande destaque fica com Ruffalo, que interpreta um ditador excêntrico – por vezes simulando os trejeitos de políticos vigentes –, trazendo um ar cômico à imoralidade vilanesca de seu personagem, determinado a povoar o planeta fictício de Niflheim com o que considera uma “raça pura”.

Pattinson também brilha como Mickey, que, após erros técnicos, tem seu corpo reimpresso sem que sua morte tenha ocorrido. Por consequência, o ator dá vida a personagens duplicados, cada um com inflexões, sotaques e expressões faciais diferentes, construindo, dessa forma, uma dinâmica envolvente e bem-humorada entre os dois.

“Mickey 17” desenvolve, ao seu decorrer, uma alegoria política cômica e satírica que, em alguns momentos, pode parecer até presunçosa por sua falta de circunspecção. A produção, além de desenvolver uma trama distópica, coloca na balança a percepção de Joon-ho sobre a natureza humana e os limites do avanço tecnológico, com elementos visuais marcantes e uma cinematografia bem trabalhada por Darius Khondji. Outrossim, o roteiro não deixa muitas brechas para interpretações distintas, o que pode, por vezes, soar moralista para parte do público.

Apesar de lidar com temas densos e um universo de personalidades intrigantes, “Mickey 17” não se torna uma experiência cinematográfica hermética ou inacessível. A narrativa – por mais que caótica – flui bem, conduzida por um equilíbrio entre humor ácido, crítica social e um visual estilizado. No entanto, o enredo acaba deixando algumas questões em aberto, como, por exemplo: por que Mickey é o único “descartável” da embarcação? Como é que ele e Nasha – personagem de Naomi Ackey – mantêm, abertamente, uma relação amorosa se é algo estritamente proibido? Mas é melhor parar por aqui para não dar nenhum spoiler do filme.

Por fim, “Mickey 17” não é apenas uma ficção científica com ambições filosóficas e políticas; é mais um reflexo do notável olhar cinematográfico e artístico de Bong Joon-ho sobre a condição humana, onde tecnologia, política e poder colidem de maneira tão provocativa quanto extravagante.

“Mickey 17” estreia dia 6 de março de 2025 em cinemas de todo o Brasil. Para garantir seu ingresso, clique aqui. 

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