O conceito de neuroarquitetura ganha bastante espaço atualmente com sua aplicação em locais tanto corporativos, quanto residenciais. A neuroarquitetura, no entanto, é um campo interdisciplinar que consiste na junção da arquitetura com a neurociência em espaços construídos, dando uma maior compreensão dos impactos da arquitetura sobre o comportamento humano.
Segundo Maria Pronin, professora adjunta e pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, atualmente a tecnologia permite por meio de imagens do cérebro saber quais áreas estão sendo ativadas em determinados ambientes. “A neurociência estuda o sistema nervoso e a relação entre funções cerebrais e mentais. A partir disso, ela evolui e surgem estudos para aplicação em ambientes construídos”.
As pesquisas, no entanto, são recentes e começaram a ser levantados a partir do século XX, quando na década de 1960, o médico Jonas Salk e o arquiteto Louis Kahn se juntaram em um profundo estudo sobre a influência da arquitetura no neurônio. Tudo começou quando o médico americano – criador da vacina da poliomielite – viajou para a Itália e percebeu que toda vez que visitava a Basílica de São Francisco de Assis ficava mais criativo e inspirado. No retorno à América, entrou em contato com o arquiteto e pediu que o seu mais novo projeto, o Instituto Salk para pesquisas na área de biologia molecular, fosse um misto de arte com ciência, onde a funcionalidade e estética caminhassem lado a lado.
Salk estabeleceu uma série de requisitos práticos. Os espaços de laboratório nas instalações teriam que ser abertos, espaçosos e facilmente atualizados à medida que novas descobertas e tecnologias avançassem. Toda a estrutura deveria ser simples porém durável, exigindo manutenção mínima. E, desta forma, surgiram as primeiras aplicações dos estudos da neurociência junto da arquitetura, consolidando-as em uma área conjunta. “Foi em 1990 que foi oficialmente falado sobre a área, quando o Instituto Americano de Arquitetos reconheceu-a”, explica.
O que a área demonstra é que a composição dos ambientes impacta diretamente na rotina de quem vive ali, motivando ou não as atividades realizadas, por exemplo. Apesar de ser um conceito mais recente, os impactos da neuroarquitetura são conhecidos há tempos no ambiente corporativo, considerando que as pessoas passam grande parte do dia no trabalho, o estudo surge como uma solução prática e eficaz para reorganização de ambientes de modo que eles se tornem mais estimulantes e, consequentemente, mais produtivos.
Salas amplas, que favoreçam a entrada de luz e circulação, são o principal estímulo ao foco e concentração das pessoas que convivem ali. Esse detalhe leva à melhoria no aprendizado e desenvolvimento de habilidades. Arranjos nos ambientes fazem com que o cérebro estabeleça mecanismos que produzem hormônios necessários para desenvolver algumas emoções e sensações. Por isso, a neurociência caminha ao lado da arquitetura, para ajudar no estudo sobre como criar espaços que desenvolvam esses estímulos e surjam resultados.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), passamos entre 80% e 90% do tempo em que estamos acordados no interior de empreendimentos. Assim, é extremamente importante ser pensada formas de preservar ou potencializar a saúde emocional enquanto esses espaços são utilizados, com o objetivo de trazer comportamentos positivos por quem convive ali. Localização das janelas, ângulos das paredes, disposição dos móveis, escolha de cores e outros detalhes são fatores que fazem toda a diferença, assim como a incidência solar.
Hoje em dia existe a Academia de Neurociência para Arquitetura (ANFA, na sigla em inglês), que acredita que o estudo do sistema nervoso pode fazer a maior contribuição para o campo da construção desde os estudos do século passado, que estabelecem métodos estruturais, acústicos e de iluminação. Em 2015, um estudo do Heschong Mahone Group demonstrou o impacto da luz natural em escolas que, segundo o grupo, as notas de matemática e leitura melhoraram 20% em salas comprovadamente bem iluminadas.
“Perceberam que é muito importante para o homem urbano conseguir visualizar pela janela um jardim, árvores, essa estética mesmo dentro do ambiente”, conta Maria. Claro que não é necessário que todos os móveis ou detalhes do local sejam simétricos e curvilíneos, mas é comprovado que uma decoração arredondada incentiva melhor a atividade cerebral. “É importante estabelecer que essas teorias da neuroarquitetura fazem toda a diferença sobre o bem-estar nos ambientes hospitalares, escolares, corporativos, culturais e, até mesmo, residenciais”.