Com o forte apoio de argumentos culturais, sociais, morais e até religiosos, além do interesse econômico, evidentemente, a tolerância ou até a proibição deste hábito milenar na espécie Humana varia enormemente.
Com a participação de estudos científicos nesta discussão, a confusão sobre as informações divulgadas parece ter apenas aumentado. Há pouco tempo era comum ouvir o conselho (inclusive dito por médicos) sobre “os benefícios do consumo de dois cálices de vinho tinto de ‘boa qualidade’ na prevenção de doenças do coração”, possivelmente devido a substâncias antioxidantes como o Resveratrol, presente nas cascas de uvas, assim como no suco de uva integral, mas havia uma certa tendência a recomendar o derivado alcoólico.
Em estudo realizado em grandes centros estadunidenses de pesquisa e publicado no prestigiado portal JAMA Network (do Jornal da Associação Americana de Medicina), envolvendo mais de 370 mil indivíduos consumidores regulares de bebidas alcoólicas, chegou-se à conclusão de que o fator que determina a diminuição na incidência de doenças cardiovasculares nos usuários leves a moderados de álcool estaria, na verdade, no estilo de vida que acompanha este consumo “controlado”. Fatores como a prática regular de atividade física aeróbica, alimentação orientada para alimentos comprovadamente mais saudáveis e menos tabagismo explicariam este achado de menor risco cardiovascular deste grupo, e não o efeito direto do álcool sobre o organismo.
Além dos danos agudos no exagero alcoólico, nas doenças crônicas pelo uso prolongado e o risco sério de desenvolver a dependência física e psicológica desta substância, a idéia do “consumo moderado” ou “com sabedoria”, conforme estimulado em peças publicitárias dirigidas aos mais jovens, não resulta em qualquer benefício na redução do risco cardiovascular, lembrando que este representa a maior causa de mortalidade em termos mundiais , atualmente.
Por:
Otavio Eboli
Cardiologista Clínico e Intervencionista – CRM 81 122