Por Claudio Dirani
Nesses quarenta anos de discos, turnês e causas humanitárias, os fãs do U2 não se tornaram diferentes de sua banda favorita. Antes de qualquer álbum chegar às lojas, como o Songs of Experience, a expectativa sempre foi de ouvir as reinvenções que os irlandeses costumam aprontar. Assim como seus seguidores, o U2 tem se cobrado a ponto de assumir culpas que parecem não ter um fundo de verdade. Em No Line on the Horizon – por não ter sido o esperado sucesso comercial – o próprio Bono (talvez, até mais Larry) crucificou o disco, de forma impiedosa.
A cada produção sempre se espera: “sonhar tudo de novo”, como se deu o impacto de Joshua Tree (1987) para Achtung Baby! (1991).
Só que nesse intervalo de 26 anos, muito aconteceu na música mundial – nem sempre para melhor.
Nesse caminho, surgiram bandas que trilharam o caminho do U2, como o Coldplay. Não é difícil ouvir reclamações de como algumas faixas parecem o U2 copiando o Coldplay. Isso acontece porque o caminho foi exatamente o contrário. São incontáveis os artistas que tentam copiar o U2, e isso não é maligno– justamente o contrário.
O bom de tudo isso é que a banda chega a 2017 – três anos depois de Songs of Innocence – com um disco que mostra o U2 realmente inovador – justamente pelo motivo de NÃO se esforçar ou prometer mundos impossíveis de reinvenção.
O encontro do “groove”
Ao conferir músicas como Summer of Love, por exemplo, é surpreendente ratificar que o U2 tem groove, swing e a sonhada alma inspirada pelo rock americano e derivados.
O mesmo acontece em The Showman, com seu clima descontraído e raízes nos anos 50. Isso seria praticamente na época de The Joshua Tree.
Ao invés de tentar se reinventar, o U2 buscou fazer o que sentia – e muitas vezes o sentimento puro se destaca mais que aventuras musicais.
Não que elas tenham sumido. Love Is All We Have Left é um gospel do século 21, soando como um mantra – com a função de Where the Streets Have No Name.
Landlady é uma espécie de continuação (em tema) de Song For Someone, em homenagem a mulher Ally, em um show feminista de Bono. Song for Someone, aliás, é usada como tema de encerramento, em uma das surpresas mais agradáveis de Songs of Experience, que certamente fecha um ciclo intimista do U2 em 13 There is A Light.
A banda que jamais voltará
Ainda na categoria das surpresas é finalmente poder ouvir a versão de estúdio de The Little Things that Give You Away – que jamais poderia ter sido tocada ao vivo antes de ser lançada, pois atuou como spoiler de um clássico em potencial.
Songs of Experience, em retrospecto, é um documento essencial para se entender seu irmão mais velho, Songs of Innocence. Diferentes mais semelhantes, um atuando como complemento do outro. Ambos serão usados como exemplo de reinvenção do U2., mas “sem forçar a barra” querendo ser uma banda que jamais voltará a ser.