Dia dos Pais: A música na construção da memória afetiva entre pai e filho

Por: Larissa Martin

Neste domingo, é comemorado o Dia dos Pais e, é dia de parabenizar essa figura tão importante que, além tudo, é uma das primeiras influências musicais dos filhos, construindo memórias afetivas marcantes em momentos de simplicidade e amor. Segundo um estudo de 2018 da Universidade do Arizona (EUA), publicado no periódico Family Communication, ao ouvir música junto dos pais, como por exemplo, em um carro durante uma  viagem, ou até mesmo em casa, no rádio, os vínculos parentais, tanto no presente como no futuro, são fortalecidos. 

Este laço criado é extremamente importante, inclusive para o crescimento interno e emocional da criança. De acordo com a psicóloga Thaís Rabanéa, na realização de atividades coordenadas, quando pai e filho estão ouvindo uma música juntos, existe uma tendência da própria música facilitar a sincronicidade entre ambos. Além disso, a doutora explica como as emoções fazem parte desses momentos: “Elas [as músicas] tendem a estarem entrelaçadas com as emoções. Então, o fato de ambos vivenciarem um momento musical juntos, de compartilhamento, pode fortalecer a empatia da relação, a tornando mais forte”, conta. Durante a fase da adolescência do filho, então, esse vínculo pode se tornar ainda mais sólido. “Os pais que mantêm a atividade musical com o filho na adolescência, tendem a garantir esse fortalecimento de vínculo também na idade adulta que perdura pela vida inteira”. 

Para Elton Rabello, que cresceu ouvindo o pai, Ariovaldo Rabello, curtir os discos de vinil de grandes bandas de Rock, a influência começou cedo. Ele diz que a música surgiu como um elo para fortalecer ainda mais a interatividade de pai e filho, que já foram juntos em diversos shows. “O primeiro que fomos juntos foi o do Rolling Stones na turnê Voodoo Lounge. Já assistimos também Robert Plant, Jimmy Page, Black Sabbath, Deep Purple umas três vezes e, um que marcou muito a minha memória, que até minha mãe foi junto, foi o show do David Gilmour, em 2015”, diz. 

Para ele, a música está sempre envolvida nos momentos familiares. “Quando nos encontramos, são duas coisas bem fortes e importantes para nós que se juntam: a música e o nosso relacionamento”. Ari, pai de Elton, reforça este sentimento e, ainda brinca sobre como sempre soube que o filho seria rockeiro que nem ele. “Uma vez, quando ele era bebê, lembro de brincar com a minha esposa ao começar a tocar ‘Burn’ do Deep Purple, uma banda que sempre admirei, e o Elton começar a dançar na mesma hora. Nesse momento eu já sabia que ele seguiria meus passos” conta, empolgado. 

O analista de sistemas, agora com 42 anos e companheiro musical do pai, Ari, diz ainda que, hoje em dia, ao colocar um som da banda britânica The Beatles, sua filhinha Isabela, de 2 anos, o acompanha nos passos de dança. “Eu acho que a música e, principalmente, o Rock, é atemporal. Tem músicas que a gente gosta e passa de geração para geração. Minha filha provavelmente também vai gostar do estilo musical que meu pai me ensinou”, diz.

A doutora Thaís explica que o benefício de ouvir uma música por influência dos pais é ainda maior quando se trata do desenvolvimento neurológico da criança, podendo evoluir a parte cognitiva. “Se a criança é incentivada a tocar instrumentos, esse desenvolvimento cerebral pode ser ainda mais estimulado. Então, há uma área importante de conexão entre os dois hemisférios, como o corpo caloso, que tende a se desenvolver por conta dos instrumentos e, alguns deles mostram também a progressão do raciocínio matemático”. 

Há ainda, um estudo feito pelo neurologista anglo-americano Oliver Sacks, que mostra que pacientes que sofrem com perda de memória, como em casos de demência, ao escutarem músicas que são de momentos especiais da vida deles, carregados emocionalmente, expressam certo reconhecimento. “É como se ele conseguisse se conectar com a sua autobiografia por meio da música, mesmo diante de uma perda grande”, conta a psicóloga. “Ou seja, quando um pai e um filho escutam uma música e dividem esse momento afetivo, que desperta boas emoções, e que, mesmo diante de uma situação tão drástica de perda de memória, por exemplo, esses momentos com a música são devolvidos em resquícios, por conta da emoção”. 

Elton fala sobre como a influência no gosto de Ari por discos de vinil o fez criar um carinho pelo objeto, que remete ao pai. “Acabo fazendo questão de colecionar e sempre penso nele. Compro um para mim e outro para ele”. Essa memória afetiva, que o pai e filho constroem dura, no entanto, para o resto da vida. “Sempre vêm na cabeça a lembrança do meu pai junto comigo em shows, ouvindo música no carro… Nós misturamos as canções de nossas gerações. E aí, tem música da geração dele que eu curto, tem outras da minha que apresentei e ele aprendeu a gostar por causa de mim… É uma troca realmente muito boa”. 

Os benefícios da música são inumeráveis, como redução de estresse e, em alguns casos, diminui os sintomas da depressão. Ouvir com os pais então, é algo muito mais gostoso e prazeroso para os filhos – e para os próprios pais -, que guardam na memória com grande carinho, um legado para a vida inteira.

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