Por: Larissa Martin e Maria Eloisa Barbosa
*Créditos da imagem: Stephanie Hahne
A segunda edição do Festival GRLS! aconteceu neste final de semana, dias 4 e 5 de março, no Centro Esportivo Tietê. O evento, que tem como principal objetivo amplificar e potencializar a carreira de artistas mulheres, reuniu cantoras que exploraram diferentes gêneros musicais, mas com uma mesma ideia: a importância de cantar pelos direitos e espaços das mulheres na sociedade.
No primeiro dia (sábado), o GRLS! iniciou as apresentações com a cantora baiana Rachel Reis, seguida de Lexa, que transformou o festival em uma grande festa com seu hit “Chama Ela”. Margareth Menezes, Mariah Angeliq e Duda Beat foram as artistas de peso que preparam o público para as headliners da noite: Jojo e Sandy. A norte-americana não vinha ao Brasil há 15 anos e, dona dos hits “Too Little Too Late” e “How To Touch a Girl”, ainda cantou o sucesso “Envolver”, da brasileira Anitta. Já Sandy falou da alegria de estar tocando pela primeira vez em sua carreira solo em um festival, tendo preparado um setlist de sucessos não só seus, mas de outros cantores, como “All Star”, de Nando Reis, e “Lugar ao Sol”, do Charlie Brown Jr. Seu show foi encerrado com “Quando Você Passa” em um coro alto da plateia.
14h35 – Manu Gavassi
Já no domingo, em vez de cantar músicas próprias, Manu Gavassi levou ao GRLS! seu atual espetáculo em homenagem a Rita Lee. Acompanhada de uma banda 100% feminina – Alana Ananias (bateria), Ana Karina Sebastião (baixo), Juliana Vieira (violão), Luana Jones (backing vocal), Mari Jacintho (teclados), Michelle Abu (percussão), Monica Agena (violino) e Paola Evangelista Lucio (backing vocal) -, a cantora demonstrou compromisso em honrar o trabalho da Rainha do Rock. “Tô muito feliz de estar aqui. Pareço uma criança. É um projeto muito especial, afetivo, que celebra as músicas, as musicistas, as compositoras, a Rita Lee. É o show mais legal que eu já fiz. Só me sinto uma fã pulante e feliz”, declarou. Sobretudo a partir do meio, com “Esse tal de Roque Enrow”, a artista parecia mais confortável e confiante, refletindo diretamente em seus vocais – que se encaixaram de maneira mais adequada às canções da veterana. Provavelmente, os fãs na grade – com cartazes escrito “Manu, viemos por você” e “Manu, nós te amamos” – ajudaram nesse quesito. Para além da música, era notável a espontaneidade de Gavassi. Ela avisou logo no início que não falaria muito pelo tempo reduzido de apresentação, mas, entre as canções, tirou os brincos que usava e soltou comentários divertidos. “O drone está na minha fuça, achei o futuro”, brincou em certo momento, a respeito de um drone que fazia filmagens. Já em outras ocasiões, disparou: “Minha franja grudou toda, esse é um erro que a gente pode cometer com si mesma, mas o cabelo cresce” e “não sei sambar nem a pau”. A musicista também demonstrou perfeccionismo. Por ter desafinado em “Ovelha Negra”, uma de suas favoritas, ela preferiu recomeçar a música, sob a justificativa de ser “capricorniana com ascendente em virgem”. Ainda, revelou que, normalmente, tem problemas com shows, mas que a apresentação em questão foi deliciosa e que não queria se despedir. Antes de encerrar o set, Manu “pediu licença” para o público e cantou uma de suas músicas autorais, “Bossa Nossa” – presente no álbum “Gracinha” (2021). Ela finalizou a apresentação com “Lança Perfume”, descrita por ela como a maior canção “da história do Planeta Terra do Brasil”.
16h – Blu DeTiger
Aos 25 anos, Blu DeTiger é “novata” na indústria musical. Entre 2019 e 2020, a baixista e cantora integrou a banda de Caroline Polachek e Fletcher e, posteriormente, durante a pandemia, começou a postar com frequência vídeos no TikTok – plataforma que alavancou sua carreira. Seu primeiro EP, “How Did We Get Here?”, saiu em 2021, mesmo ano em que firmou uma parceria com a Fender. Diante desse cenário, ela fez sua apresentação de estreia no Brasil. Apesar de visivelmente tímida, a artista – cujo estilo lembrava vagamente o de Taylor Momsen, do The Pretty Reckless – impunha presença com seu baixo azul e com as músicas puxadas para o “alternativo” marcadas pelo instrumento. Inclusive, a cantora Day Limmns, que cantou no evento mais cedo, e o guitarrista do NZ Zero, Gee Rocha, pareciam estar curtindo muito o set na plateia. Por diversas vezes, ela repetiu o seu nome e o da capital paulista, fez corações com os dedos e agradeceu a oportunidade de compor o line-up. “É um festival muito legal, estou honrada. Vim de Nova York e essa é a minha primeira vez no Brasil. Há um rumor de que os melhores fãs são daqui”, afirmou. Entre as músicas apresentadas, figuraram “Night Shade” – sobre Nova York, de acordo com a musicista, “Elevator” – com a plateia repetindo em coro “I go up, I go down”, e “Vintage”. Ela tirou um momento para introduzir sua banda, formada pelo irmão Rex DeTiger (baterista) e Horace Bray (guitarrista).
17h35 – Alcione
Marrom – como é carinhosamente chamada pelos fãs – se apresentou sentada em uma cadeira devido a uma recente cirurgia na coluna e pinos nos quadris. Carismática como sempre, pediu desculpas por isso, brincando que tem preguiça de vez em quando das sessões de fisioterapia, mas que logo ficaria boa. Com enorme potência vocal aos 75 anos, fez a alegria dos presentes em um show comemorativo dos seus 50 anos de carreira, não deixando de fora músicas como “A Loba”, “Você Me Vira a Cabeça”, “Meu Ébano” e o clássico “Não Deixe o Samba Morrer”. Após cantar “O Surdo”, aproveitou para discursar contra a violência doméstica: “Pancada dói sim. Vamos para com essa graça de bater nas mulheres. Conversar é bom, amar é bom…”, fazendo referência à sua letra, que diz “pancada de amor não dói”. Entre brincadeiras, chegou a pedir licença para tomar seu cafézinho no palco e respondeu aos risos o coro de fãs que gritavam “Marrom, eu te amo”: “Eu também amo todos vocês. Tenho 50 anos de carreira por causa de pessoas como vocês”.
19h10 – Anavitória
Antecipando a atração principal da noite, Ana Caetano e Vitória Falcão subiram ao palco confortáveis como de costume: descalças e com seus tradicionais figurinos combinando. Prestes a celebrar 10 anos de carreira, as meninas passearam pelos maiores hits, como “(Tu) Trevo”, “Ai Amor”, “Cigarra”, “Partilhar”, e abrindo o show com “Amarelo, azul e branco”, música que conta com breve participação, no formato de citação, de Rita Lee. A Rainha do Rock, inclusive, foi homenageada novamente no Festival durante o show de Anavitória, que anunciaram Manu Gavassi de volta ao palco para uma participação em “Amor e Sexo”. Juntas, se divertiram interpretando um dos maiores sucessos de Rita Lee: “Essa é uma celebração às mulheres, a essa mulher, a Rita Lee, às mulheres de São Paulo”, disse Ana.
20h45 – Tinashe
Fechando a edição de 2023 do Festival, Tinashe iniciou seu show pontualmente, às 20h45. Junto de um balé de seis dançarinas, ela subiu ao palco com “I Can See the Future”, usando um figurino todo laranja, cheio de franjas. O estilo musical voltado sobretudo para o R&B foi complementado com um show verdadeiramente pop, que justificou a posição alta no line-up: há muita fumaça, energia, coreografias (que roubaram a cena) e simpatia. Não falta nada em relação à fórmula das grandes divas. “São Paulo, tenho uma pergunta para vocês”, disse, antes de iniciar “Perfect Crime”. No telão, imagens do símbolo do álbum mais recente, “333” (2021), como também o nome da cantora, predominaram. Infelizmente, uma forte chuva começou após os primeiros minutos de show, fazendo com que os fãs corressem e se juntassem embaixo das árvores. “2 On”, “Save Room for Us” e covers de “The Worst in Me”, do KAYTRANADA, e “All My Friends”, do “Snakehips”, fizeram parte do repertório longo de quase 30 músicas. Vale destacar os solos do guitarrista Zach Fenske, que trouxeram mais peso para as canções executadas ao vivo.
Sobre o GRLS!
Fiel em sua proposta de dar protagonismo às mulheres, durante os intervalos, tocavam apenas músicas de cantoras – de Tasha & Tracie à Nelly Furtado, de IZA à Ludmilla. Nesses períodos, o espaço da Heineken contou com DJs – entre elas, Valentina Luz. Havia também uma “feirinha”, com lojas de sete marcas diferentes (incluindo a Livraria Africanidades e a loja de sandálias Linus) idealizadas por empreendedoras. Como de costume nos festivais, as paredes estavam cobertas de lambe-lambes, que homenageavam Elza Soares, Gal Costa e Marília Mendonça. Tinham ainda ativações do Instagram, onde era possível fazer um “vídeo especial”, e da Converse, que dava de brinde pôsteres com ilustrações. No entanto, diferentemente dos espaços interativos, a praça de alimentação era composta em sua maioria por restaurantes sem uma marca convidada para estar ali – exceto pelo “Bar da Dona Onça”. Os cardápios continham hambúrgueres, espetinhos variados, batata-frita, hot-dogs, pastéis, drinks e, para os veganos, opções de coxinha. Na área da pista premium, onde a imprensa ficou, mesas, banquinhos e redes ficaram espalhadas, proporcionando certo conforto. Entretanto, os banheiros químicos, exatamente ao lado, atrapalharam na hora de realizar as refeições. É provável que o “GRLS”, apesar da demanda baixa de ingressos em 2023, tenha uma nova edição no ano que vem. Na saída, havia exposta uma placa que dizia: “nos vemos em 2024”.