A imprensa capixaba noticiou, em 29 de março, a morte de Gercy Volpato, aos 94 anos, em Cachoeiro de Itapemirim-ES. Gercy e a irmã Maria Leonôr, já falecida, são consideradas as primeiras fãs do cantor e compositor Roberto Carlos, 82. Elas o conheceram bem antes da fama, quando ainda era criança e principiava na carreira musical.
Conterrâneas do “rei”, as duas acumularam um grande acervo do artista, entre LPs, DVDs, cortes de jornais e revistas, livros, fotos, entre outras coisas. Para garantir a imortalidade do material, o sobrinho-neto delas, Luan Volpato, 36, recorreu à internet.
Apoiado por uma lei local de incentivo à cultura, criou o site “Detalhes de Uma Vida”. Ele e uma amiga jornalista passaram meses fotografando, catalogando e digitalizando item por item, num total de mais de 3 mil arquivos. Em entrevista exclusiva à Alpha FM, Luan contou mais sobre o projeto e a relação da tia-avó com o grande ídolo.
Entrevista com Luan Volpato (parte 1 – a casa)
O cantor Roberto Carlos era assunto de Gercy em qualquer ocasião?
Em diversos momento no dia a dia, sim, surgia o assunto Roberto Carlos. Às vezes, alguma situação ou memória ligava ela ao cantor. Por exemplo, uma recordação de família que levava a uma música tocando na rádio ou alguma situação em Cachoeiro que estava relacionada a algum conhecido ou parente do cantor. Na verdade, o próprio dia a dia dela vivia de Roberto, ouvindo músicas no rádio, compartilhando notícias sobre ele.
Qual é a sua relação com a casa, onde fica o acervo?
Desde de sempre, eu frequentei a casa das minhas tias. Pude ver o acervo delas, o crescimento do acervo delas. A casa é um local que eu costumava passar períodos de férias e feriados. É um local extremamente agradável, é no meio da natureza, na zona rural de Cachoeiro. Tudo isso contribui para dar um clima ainda mais especial.
O que será da casa agora?
Sem a presença delas na casa, quem reside é o meu tio, e ele é o responsável por resguardar esse acervo que continua lá na casa delas.
Entrevista com Luan Volpato (parte 2 – o acervo)
Continua vivo o sonho de uma espécie de museu fora do virtual?
Um dos maiores desejos delas era, realmente, ter um local adequado, uma espécie de museu, para exibir toda essa coleção ao público. Mas, infelizmente, não foi possível, principalmente por questões financeiras. Uma das saídas foi a criação de um site, em 2019. Foi um projeto que eu inscrevi na Lei Rubem Braga. Esse projeto foi aprovado e eu, juntamente com uma amiga jornalista, Sara Moreira, nós digitalizamos todo o acervo. No site, estão todas as curiosidades e todos os itens. Se eu pudesse, eu refaria tudo de novo com todo prazer.
Qual foi a sensação de efetivar o projeto do site depois da conclusão?
Esse foi um dos projetos mais relevantes, prazerosos e gratificantes que pude executar na área da cultura. Não só pela ligação pessoal com ela (Gercy) e por ter presenciado a vida inteira essa dedicação dela ao Roberto, mas também por conta da relevância de um projeto como esse para a cultura da nossa cidade, do Espírito Santo, em relação a um de seus maiores ícones da música. E também, porque atenua, de certa forma, essa necessidade de expor ao público todo esse acervo, essa história delas. Ainda existe, sim, a ideia de expor em algum local de forma permanente. Mas, vale lembrar, que esse acervo já ficou exposto, em algumas ocasições, tanto na Casa de Cultura Roberto Carlos, um dos pontos turísticos de Cachoeiro, quanto em outros locais da cidade.
Qual é a quantidade total de objetos do acervo?
Eu não sei precisar o número exato de itens do acervo. Mas, por conta da digitalização e das fotografias, nós geramos uma média de 3,5 mil a 4 mil arquivos. A gente engloba a televisão, a vitrola, o rádio antigo.
Entrevista com Luan Volpato (parte 3 – a tia e Roberto)
Quantas vezes Gercy e Maria estiveram com Roberto Carlos?
Desde criança, o Roberto teve situações vividas com as minhas tias. Por exemplo, quando ele era criança e ainda morava em Cachoeiro, além do fato de elas irem vê-lo cantar na rádio Cachoeiro, desde a primeira vez que ele cantou, elas também, foram assistir a partidas de futebol no estádio da cidade. Andaram de táxi com ele, pagaram a corrida, porque ele não tinha dinheiro. Receberam convite da mãe dele, Lady Laura, para visitá-la.
Depois que ele ganhou fama, elas continuaram indo a shows e procurando encontrar com ele no camarim – aconteceu algumas vezes. Até pouco tempo atrás, elas mantiveram a tradição de mandar cartões de aniversário. A última vez que se encontraram foi em 2016, no show do aniversário do Roberto em Cachoeiro. Segundo ela (Gercy), ele disse que se lembrava dela.
Alguém da equipe dele entrou em contato após o falecimento de Gercy?
Eu e pessoas ligadas a mim e ao projeto, durante todos esses anos, tentamos fazer contato com a assessoria, pelo menos, para que tivesse conhecimento não só do site, mas também do desejo da minha tia de rever o Roberto e, quem sabe, receber a visita na casa. Mas, infelizmente, não foi possível. De certa forma, é um ressentimento que ela tinha. Mesmo na ocasião do falecimento, não houve qualquer tipo de menção. Parece que existe uma blindagem da assessoria.
Gercy tinha sua música favorita?
Quando alguém perguntava a ela qual era a música preferida, a resposta dela era que todas, porque todas as músicas do Roberto eram especiais para ela. Mas tinha duas que ela citava em destaque que eram “Se o amor se vai” e “Por ela”.
Veja também: A coroação de Roberto Carlos e as teorias sobre a alcunha de “rei”