“Emilia Pérez”, o mais novo longa-metragem dirigido por Jacques Audiard, tem causado comoção no universo cinematográfico.
A película, decerto, agradou à crítica especializada. Em sua premiere, no Festival de Cannes, o elenco de protagonistas femininas do filme venceu a honraria de Melhor Atriz em conjunto e o longa faturou o Prêmio do Júri. Desde então, “Emilia Pérez” conquistou quatro das dez indicações em que concorria no Globo de Ouro, e no Oscar, onde foi nomeado 13 vezes, se tornou o filme internacional com mais indicações nos 97 anos de história do prêmio da Academia.
Contudo, houve um descompasso entre a crítica especializada e o público geral, que recebeu o filme de forma, majoritariamente, negativa. No Rotten Tomatoes, site que calcula avaliações feitas pela crítica especializada e pelo público, por exemplo, “Emilia Pérez” tem, atualmente, 18% de aprovação popular.
A Alpha FM, que teve a chance de assistir “Emília Pérez” antes de sua estreia, te conta os pontos altos e baixos do filme, analisando as críticas recebidas e o motivo pelo qual ele não conquistou o público.
Sobre “Emilia Pérez”
“Emilia Pérez” é adaptação de um libreto lírico escrito pelo diretor Jacques Audiard, que, por sua vez, se inspirou no romance “Écoute” de Boris Razon. Em suma, a comédia criminal, que, em adição, também é um musical, conta a história de Rita, advogada encarregada de ajudar um narcotraficante fugitivo a realizar uma cirurgia de redesignação sexual.
Rita é interpretada por Zoë Saldaña, que se faz um dos mais fortes pontos da obra de Audiard, se afirmando como uma força dominante em tela. Por mais que Saldaña esteja baseando sua campanha na temporada de premiações como Atriz Coadjuvante, é justo dizer que a atriz divide protagonismo com Karla Sofia Gascón, que dá vida a Manitas Del Monte e, posteriormente, a Emilia Pérez. Sofia Gascón – que vem se envolvendo em polêmicas por suas antigas publicações no X – também traz algo visceral às telas, sendo bastante convincente como sua personagem. Ambas as atrizes exprimem o máximo de seu roteiro improvável, dissuasivo, mas certamente singular, assinado, também, por Audiard.
Ainda mais, quando se trata do elenco principal, apenas uma atriz de origem mexicana foi escalada. Esta é Adriana Paz, que, aliás, também oferece uma performance poderosa e matizada como Epífania – por mais que tenha tempo de tela limitado.
Outrossim, além das protagonistas, os méritos complementares do filme ficam com a fotografia e com o senso estético do design de produção. Assim, o aspecto ambíguo da realidade e do abstrato são bem trabalhados por meio do movimento e do dinamismo entre luz e cor.
Onde “Emilia Pérez” erra?
Decerto, a obra adota um estilo de storytelling singular, isso é inquestionável. O filme, que pode ser considerado gênero híbrido, toma fisionomia como um musical disruptivo, que por meio de canções distintas, se torna pretensioso. Isto porque as músicas pouco acrescentam à narrativa e, por consequência, se tornam uma forma de zombaria do próprio enredo, não tendo quase nenhuma característica redentora. Um exemplo característico disso é a música “La Vaginoplastia”, que se tornou viral nas redes sociais por sua letra redundante e satírica, contudo, ao invés de ser vista por sua proposta excêntrica, ela se limita a ser uma chacota da experiência trans.
Em síntese, esse é o maior erro de “Emilia Pérez”: ao tratar de temas prudentes e substanciais, o filme esvazia suas pautas.
Sobretudo, o segundo plano de toda a trama é a violência e a criminalidade dos cartéis mexicanos. No entanto, ao tratar de tal assunto, que não é ficcional, o filme escolhe uma representação retrógrada do México, que é caracterizado como um Estado inerentemente violento.
Portanto, tal como um filme francês, composto, principalmente, por profissionais europeus, a abordagem, sem propriedade, pode ser vista como rasa e até ofensiva para a população mexicana. Ressalta-se, ainda mais, que o longa foi gravado no Estúdio Bry-sur-Marne, nos arredores de Paris.
Quando perguntada sobre o fato de as três protagonistas de “Emilia Pérez” serem interpretadas por uma espanhola e duas americanas, a diretora de elenco, Carla Hool, disse que fez “uma grande procura, mas, no final das contas, as melhores atrizes, que personificaram essas personagens, são aquelas [que foram escaladas]”. “Tivemos que ajustar a autenticidade, com os sotaques e com o fato de elas não serem mexicanas nativas”, disse Hool.
Jacques Audiard, em contraste, justificou a escolha de Saldanã e Gomez por questões financeiras. “Fiz muitos testes de elenco no México, mas, em determinado momento, ficou claro que, para aumentar o orçamento do filme, eu precisava encontrar atrizes que também pudessem trazer financiamento”, disse o cineasta.
Por consequência, um grupo de artistas mexicanos produziu um curta-metragem intitulado “Johanne Sacreblu”, como resposta a “Emília Pérez”, onde ironizam os hábitos da cultura francesa. A sinopse oficial do curta o define como: “A vida real dos franceses em um musical feito por mexicanos. Conta a história épica de baguetes, croissants, queijos fedidos e as dificuldades dos franceses de não tomar banhos diários.”
Em entrevista à CNN, Audiard pediu desculpas àqueles ofendidos por seu projeto, argumentando que era uma “ópera” e que não tinha o propósito de ser essencialmente realista. “Se há algo que parece chocante em ‘Emilia Pérez, então me desculpem… O cinema não fornece respostas, apenas faz perguntas. Mas talvez as perguntas em Emilia Pérez estejam incorretas”, disse o cineasta.
Assista ao trailer
“Emilia Pérez” estreia no Brasil dia 6 de fevereiro, com pré-estreia limitada disponível ao público desde a semana passada.
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