Texto por Valentine Boutsiavaras
O oitavo filme da franquia Missão: Impossível, apesar de novo, ainda mantém velhos hábitos: uma ameaça à humanidade que parece impossível de ser solucionada, e um agente Ethan Hunt impossível de ser parado. Mesmo diante das piores circunstâncias e dos mais difíceis desafios – sejam eles físicos, morais ou nucleares – Tom Cruise segue correndo. Literalmente.
Quem é O Acerto Final na franquia Missão: Impossível?
Missão: Impossível: O Acerto Final é o oitavo capítulo de uma saga que já dura quase 30 anos. Pela primeira vez, a história é dividida em duas partes, e o novo longa se passa apenas dois meses após os eventos de Acerto de Contas – Parte 1. Com isso, a trama mantém uma continuidade inédita na franquia e traz de volta vários elementos que fazem referência direta aos filmes anteriores.
O Acerto Final também faz uma viagem ao passado em diversos momentos, trazendo um aspecto mais nostálgico à narrativa. O filme reverencia suas origens, especialmente o primeiro Missão: Impossível (1996) e o terceiro longa da saga. É um verdadeiro fan service – não só para o público, mas até para Tom Cruise, que parece se divertir horrores em sua própria despedida.
Entre os easter eggs mais marcantes, vemos o retorno do misterioso “Rabbit’s Foot” de Missão: Impossível 3 (2006) e uma mensagem enigmática com a data de 22 de maio de 1996 – o dia em que a franquia nasceu nos cinemas. O filme homenageia o que construiu Ethan Hunt até aqui, resgatando figuras emblemáticas, reencenando memórias e confrontando o agente com os fantasmas do próprio passado. Tudo soa como uma tentativa de fechar ciclos – não apenas dentro da trama, mas também no coração dos fãs.
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A trama
Em Missão: Impossível: O Acerto Final, o agente Ethan Hunt (Tom Cruise) mais uma vez se encontra fugindo de autoridades que o acusam de traição à IMF – agência de espionagem secreta a qual Hunt serve há 29 anos. A trama, como de costume, o coloca numa corrida contra o tempo para salvar o mundo, desta vez da ameaça de uma IA chamada Entidade, que busca a destruição da humanidade. A missão é urgente, ambiciosa, mas soa familiar — e isso pode ser um ponto fraco.
Para evitar que a Entidade alcance seus objetivos e impedir que o vilão secundário – e humano – Gabriel (Esai Morales) domine essa IA e o mundo, Ethan Hunt e sua equipe precisam realizar o impossível em apenas três dias, antes que essa senciência obtenha controle nuclear total.
Durante essa missão, Hunt deve completar diversas tarefas cruciais para realmente impedir o chamado “Anti-Cristo” de acabar com a raça humana. Entre elas estão encontrar um submarino perdido no fundo do oceano, e localizar o código-fonte dessa IA do mal para, então, poder derrotá-la.
Para isso, Hunt conta com a ajuda de seus velhos amigos, mas recebe ajuda de novos personagens – interpretados por Hannah Waddingham e Tramell Tillman – e acaba tendo despedidas emocionantes.
Hunt, apesar de ser um agente excepcional e mais do que capacitado para o trabalho, não faz o tipo frio e calculista. Pelo contrário, ele se destaca por sua lealdade aos amigos e a seu novo interesse amoroso, Grace (Hayley Atwell), uma ladra de primeira que se juntou à equipe no filme anterior, substituindo Ilsa (Rebecca Ferguson) na vida de Hunt.
O fan service sustenta o filme?
Mas nem só de nostalgia vive o filme. Há, sim, novidades. Novos rostos, uma missão que se renova – ainda que seja uma velha pendência mal resolvida – e, claro, mais ação. Muita ação. Desde o primeiro filme, acompanhamos Ethan Hunt fazer o impossível: pular em trens em movimento, invadir a sede da CIA pelo teto, despencar de aviões (várias vezes), pilotar helicópteros em pleno combate, escalar o Burj Khalifa, mergulhar sem oxigênio… A cada capítulo, Cruise e o diretor – e amigo – Christopher McQuarrie, desafiam a física e a lógica. Neste novo filme, eles miram ainda mais alto (e fundo): cenas submersas que exigiam muito esforço do ator, sequências aéreas intensas, perseguições de tirar o fôlego. São momentos pensados para a tela grande – daqueles que só o cinema entrega.
O próprio Tom Cruise é um grande defensor da experiência cinematográfica, e, na internet, recebe o nome de Sr. Cinema. Em entrevista no Festival de Cannes de 2025, o astro comentou: “Cresci vendo filmes na tela grande. É assim que eu os faço e gosto dessa experiência. É imersivo e ter isso como uma comunidade e uma indústria é importante. Eu ainda vou ao cinema”.
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Ainda assim, no meio de tanto espetáculo, o enredo dá voltas desnecessárias. A estrutura se repete, os diálogos explicam demais, e, em alguns momentos, parece que estamos assistindo a um remix de Acerto de Contas – Parte 1. Com toda a tecnologia atual, talvez Ethan Hunt nem precisasse mais se jogar de prédios ou aviões… Mas, felizmente, Tom Cruise ainda faz isso por nós. E, se me perguntarem, ele salva o cinema toda vez em que decide continuar pulando. Pelo visto, suas aventuras ainda continuarão por bastante tempo, como revelou o ator em entrevista ao The Hollywood Reporter: “Eu disse que faria filmes até os 80; na verdade, farei filmes até os 100”.
Vale a pena fazer como Tom Cruise e ir ao cinema vê-lo?
O filme é, sem dúvidas, uma ode aos quase 30 anos de Missão: Impossível. Grandioso, potente e explosivo, ele te mantém na beirada do assento do início ao fim, com cenas de ação que fazem jus à reputação da franquia. É o tipo de experiência feita para ser vivida no cinema – daquelas que fazem a tela tremer e o coração acelerar. Vai agradar em cheio aos fãs de longa data, enlouquecer os apaixonados por cinema de ação e, claro, conquistar quem só queria ver Tom Cruise desafiar a morte mais uma vez.
Fazer cinema é só acrobacia, manobras perigosas e correria? Nem sempre. O cinema também pode ser calmo, delicado e sutil. Mas tem algo incrivelmente especial quando alguém decide levar o entretenimento ao extremo – e fazer isso com tanto amor e entrega quanto Tom Cruise faz.
É um filme longo? É. Poderia ser mais curto? Com certeza. Mas esse aqui tem licença poética para exagerar. É fan service do início ao fim – para o público, para a história da franquia e, talvez mais do que tudo, para o próprio Tom Cruise, que deve ter se sentido realizado ao protagonizar esse espetáculo. E tudo bem. Se essa for mesmo a despedida a Ethan Hunt, é um adeus digno. Missão cumprida.
Tom Cruise tem um objetivo claro nessa vida, e ele se resume em salvar o cinema. Pode ser que ele não cumpra essa tarefa, sendo essa uma das únicas missões realmente impossíveis a que ele será incumbido. Mas ele com certeza nunca falha em entregar muita adrenalina, emoção e uma urgência que salta da tela.