O Monsters of Rock celebrou 30 anos de trajetória no Brasil com uma nova edição do festival neste sábado (19), no Allianz Parque, em São Paulo — a primeira desde 2023. O line-up contou com o Scorpions como atração principal, que, assim como o evento, comemorava uma grande marca: os 60 anos de carreira.
Stratovarius, Opeth e Queensrÿche ficaram responsáveis por dar início aos shows. Um dos destaques veio logo depois, com o Savatage, que retomou as atividades na estrada após 10 anos, durante o festival, sem o membro fundador e tecladista Jon Oliva — que, por problemas de saúde, não realiza mais performances, mas continua envolvido nos bastidores. Zak Stevens, vocalista, conversou o tempo inteiro com o público, pronunciando sonoros “let me hear you”, mencionando a fina garoa quase perfeita para a ocasião antes de “Handful of Rain” e arriscando falar em português: “como vai” e “faz barulho aí”. Além dos efeitos especiais no telão, que incluíram a bandeira do Brasil ao final de “Chance”, o cantor ainda divertiu ao arremessar bolas de futebol na plateia em “Edge of Thorns” e aparentar confusão com a invasão de uma fã no palco, rapidamente retirada. Quase ao fim, Jon fez uma pequena participação com uma performance gravada de “Believe”, exibida nos telões.
Em seguida, o Europe, liderado por Joey Tempest, também empolgou o público presente. Para além dos clássicos que causaram histeria — “Carrie” (com as lanternas da plateia acesas), “Cherokee” e “The Final Countdown”, marca registrada em eventos esportivos e em produções audiovisuais —, o cantor não deixou a energia cair em nenhum momento, sempre se movimentando no palco, interagindo, fingindo jogar a guitarra, arremessando o microfone, pegando bandeira, filmando os fãs, elogiando a programação e até cantando deitado em “Superstitious”. Ainda falou por diversas vezes “car@lho” e, em português, “canta comigo” e “tudo bem”. Ao final, prometeu voltar em breve.
Então, com 30 minutos de antecedência, após “War Pigs”, do Black Sabbath, tocar nas caixas de som e a cortina preta do mais recente disco “Invincible Shield” (2024) cair, o Judas Priest subiu ao palco. Com Rob Halford entrando em um figurino brilhante, a banda chamou atenção antes mesmo de começar o espetáculo. Com um gigantesco símbolo do grupo cheio de luzes no teto, além de LEDs espalhados por todo o espaço, o aparato trouxe imponência. Sobretudo, o setlist incluiu tanto músicas mais novas, como “Invincible Shield”, quanto clássicos como “Painkiller” — com a icônica intro na bateria —, “Breaking The Law” e “Turbo Lover”, que arrancaram coros mais altos, independentemente da chuva, que engrossava. Ao longo do set, o vocalista desfilou seus típicos agudos, impressionando em “Love Bites”, por exemplo, e não só fez uma dinâmica antes de “Victim of Changes” em que o público tinha que repetir os seus gritos, como também discursou rapidamente:
“É muito bonito voltar, sentimos falta de vocês, São Paulo. O Judas Priest tem feito heavy metal há anos, e vocês nos deram essa vida de heavy metal”, disse o cantor, pronunciando também “The Priest is back”. Como já é tradição, para “Hell Bent for Leather”, no encore, o astro voltou para o palco em cima de uma moto Harley-Davidson, colocando, depois, um sobretudo jeans com patches que homenageavam inúmeras bandas — entre elas, Black Sabbath, Nine Inch Nails, Alice in Chains e Skid Row. Uma mensagem com os dizeres “The Priest Will Be Back” concluiu o espetáculo.
O espetáculo do Scorpions
Klaus Meine (voz), Rudolf Schenker (guitarra), Matthias Jabs (guitarra), Paweł Mąciwoda (baixo) e Mikkey Dee (bateria), que recentemente passou por um sério problema de saúde, entraram com o jogo ganho. Headliners da noite, o Scorpions provou por que tem uma carreira tão longínqua ao mostrar não só sintonia no palco, como um setlist de peso.
Isso já ficou claro na abertura, que passou uma espécie de retrospectiva de toda a carreira dos músicos: “60 anos de paz, amor e rock and roll. 60 anos do Scorpions, que te abalam como um furacão. Em todo o mundo, de Las Vegas até Tóquio, do Rio até Paris. Fundada em 1965, tocaram nos maiores festivais e nos locais mais icônicos em todo o mundo. Eles têm rompido barreiras e unido as pessoas pelo poder do rock. O som, a energia, a paixão… suas músicas emocionaram gerações em todos os cantos. Não há ninguém como eles, Scorpions. Mais de 5 mil shows, 27 turnês mundiais, 83 países diferentes — e agora eles estão voltando pra casa”, dizia o vídeo, que mesclava imagens de arquivo.
Klaus, com sua típica boina, dizia o tempo inteiro “boa noite, São Paulo” e “obrigado”. O cantor também tirou um tempo para parabenizar o festival pelos 30 anos e para jogar baquetas aos fãs. “Vocês são maravilhosos, nós amamos vocês”, repetiu por mais de uma vez.
Para a alegria dos paulistas, “Still Loving You”, um dos maiores clássicos do grupo que havia ficado de fora em Brasília, ganhou espaço no repertório, no lugar de “Delicate Dance”. “Loving You Sunday Morning”, que não aparecia desde 2020 antes da excursão pela América do Sul, e um medley especial dos anos 70 com “Top of the Bill”, “Steamrock Fever”, “Speedy’s Coming” e “Catch Your Train” figuraram entre os destaques, assim como o solo de bateria de Mikkey, ovacionado, com direito a um divertido efeito de caça-níquel nos telões. Ainda vale mencionar “The Zoo”, com Matthias no talk box, e a instrumental “Coast to Coast”, com Klaus também na guitarra.
Claro, canções como “Wind of Change” (descrita como responsável por “pedir a paz”), “Send Me an Angel” (com o público acendendo as lanternas) e “Rock You Like a Hurricane” também não faltaram e atuaram como protagonistas. Outro ponto alto ficou por conta do gigante escorpião inflável que surgiu no palco antes do encore, iniciado por “Blackout”, e que parecia tomar vida. Com toda certeza, um jeito impactante de encerrar uma apresentação que já era impactante por si só.
