“Branca de Neve” tem sua magia preservada ou perdida no live-action?

O live-action, formato que adapta animações para filmes com atores e cenários reais, tornou-se uma forte tendência entre os grandes estúdios de Hollywood nos últimos anos. A Disney, responsável por alguns dos mais icônicos longas animados da história do cinema, tem liderado essa onda de adaptações.

Apesar do sucesso de bilheteria e da capacidade de atrair o público para as salas de cinema, essa fórmula nem sempre entrega o mesmo encanto das animações originais. Ao transpor histórias animadas para um universo realista, muitas produções acabam perdendo os elementos lúdicos, oníricos e fantásticos que tornam os clássicos inesquecíveis.

“Branca de Neve” marca a vigésima adaptação da Disney nesse formato desde 2010 – considerando prequelas e sequências. Lançada originalmente em 1937, a animação foi um marco na história do estúdio, sendo seu primeiro longa-metragem e abrindo caminho para o futuro sucesso do estúdio no universo cinematográfico.

Desde seu anúncio e ao longo de seu desenvolvimento, o live-action de “Branca de Neve” foi coberto de polêmicas, desde a escalação de Rachel Zegler, atriz de origem colombiana, como a princesa que tem a pele “branca como a neve”, até a representatividade de pessoas com nanismo como os sete anões e as mudanças no enredo, que sugeriam uma via mais moderna à tradicional história de amor entre a Branca de Neve e seu Príncipe.

Nesta quinta-feira (20), “Branca de Neve” estreia nos cinemas de todo o Brasil. A Alpha assistiu à mais nova promessa da Disney com exclusividade e te conta: o longa merece mesmo tantas críticas ou vale sua visita ao cinema? Saiba tudo!

“Branca de Neve” está sendo interpretada de forma equivocada?

Primordialmente, um dos maiores dilemas encontrados com os live-actions é, como já citado, alcançar as expectativas do público em relação a histórias já queridas. Assim, tirando da frente um possível estorvo, esta nova versão de “Branca de Neve” deixa claro que não pretende recontar a clássica história popularizada pela Disney em 1937. Ela tem como intenção reimaginá-la.

Para os enfáticos amantes da animação, isso não deve agradar, mas talvez seja um dos maiores acertos da produção. O conto original da Branca de Neve, originado do folclore alemão nos anos 1800, era intitulado “Schneewittchen” e foi incluído na coletânea de fábulas “Kinder- und Hausmärchen”, dos Irmãos Grimm.

A história, ao contrário da versão mais conhecida na atualidade, tem outras nuances. Nela, a princesa não tem sua morte causada pelo veneno da Rainha Má; neste caso, ela sufoca com um pedaço da maçã e volta à vida após seu caixão ser derrubado no chão, desengasgando-se, sem interferência do Príncipe Encantado ou beijo milagroso.

Quando se trata de contos de fadas, é comum encontrar diferentes e diversas versões da mesma história. “Cinderela”, por exemplo, tem uma de suas primeiras iterações datadas da Dinastia Chinesa, 850 d.C., intitulada “Ye Xian”.

Nesta nova versão da primeira princesa da Disney, a produção abstrai os sete anões da narrativa. No entanto, Dunga e seus companheiros existem, não como homens com nanismo, mas como criaturas mágicas que residem no bosque há séculos — 274 anos, para ser exato — construídas com CGI que pode ser considerado mal proporcionado.

Outrossim, a origem da protagonista, Branca de Neve, é renovada nesta nova variante cinematográfica. Na animação, a personagem se chama Branca de Neve porque sua pele é “branca como a neve”. Contudo, desta vez, a história é diferente.

“A trama recuou para outra versão de ‘Branca de Neve’, que foi contada ao longo da história, na qual ela sobreviveu a uma nevasca quando era bebê. Assim, o rei e a rainha decidiram nomeá-la Branca de Neve para lembrá-la de sua resiliência”, disse Rachel Zegler, atriz que dá vida à princesa no longa, para a Variety.

E, por fim, o Príncipe Encantado, que era nomeado Florian, tem o nome alterado para Jonathan e, dessa vez, não é um príncipe, e sim um rebelde que, junto a um grupo de opositores que vivem à margem da sociedade – subtrama que acaba ficando com pontos soltos no meio do caminho, protesta contra o regime opressivo da Rainha Má.

Mesmo com essas mudanças, o maior êxito do novo “Branca de Neve” é que ele mantém a principal essência e a mágica do imaginário Disney. O longa é colorido, fantasioso e expressivo, trazendo cenários lúdicos e pitorescos que reforçam sua estética de conto de fadas.

Já Rachel Zegler traz uma boa dinâmica para a tela, especialmente durante números musicais, nos quais se pode ver a atriz em seu elemento. Seus potentes vocais são altamente valorizados, e ela consegue transmitir uma quantidade enorme de emoções. Sua contraparte, Gal Gadot, por sua vez, pode não convencer como Rainha Má. Sua performance transparece uma personagem engessada, resultando em uma vilã que não transmite toda a imponência esperada, limitada a entoar frases de efeito sem profundidade.

A direção de Marc Webb, alinhada à trilha sonora de Benj Pasek e Justin Paul, segue a estética dos musicais modernos, com grandes números coreográficos e vocais intensos. No entanto, a escolha por novas canções em detrimento de clássicos como ‘Someday My Prince Will Come’ pode dividir opiniões, já que, em alguns momentos, as composições originais se aproximam de fórmulas já conhecidas do gênero.

Em suma, os dilemas apresentados pelo enredo são facilmente resolvidos, limitando-se a ser uma produção tipicamente infantil, sem desafiar os limites do que apresenta e, analogamente, carregando sempre uma certa lição de moral para seus espectadores.

Sem dúvida, “Branca de Neve” não seria alvo de tantas críticas se não estivesse no centro de discussões amplas e polarizadas, sendo elas fundamentadas ou não.

Embora o roteiro de Erin Cressida Wilson careça de maior fluidez e os clichês modernos se infiltrem de forma desnecessária nas escolhas de Webb, em comparação com outros live-actions, o filme ainda preserva, à sua maneira, os elementos mágicos e fantasiosos que tornam a Disney única.

Mas a pergunta que fica é: será que o público ainda deseja mais live-actions ou isso reflete uma dificuldade do estúdio em investir em novas histórias?

Assista ao trailer de “Branca de Neve”

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