Há alguns anos, a Pixar era unanimemente reconhecida como um dos grandes pilares criativos de Hollywood. Com um portfólio que inclui produções marcantes como “Toy Story”, “Os Incríveis”, “Ratatouille” e “Divertida Mente”, o estúdio construiu uma trajetória de destaque na animação mundial.
Mais recentemente, no entanto, a Pixar tem vivido um período de transição. Desde 2017, o estúdio ainda busca um novo grande sucesso original que alcance o mesmo nível de repercussão de seus lançamentos mais icônicos. Filmes como “Elementos”, “Lightyear” e “Red: Crescer é uma Fera” tiveram recepções variadas e, por diferentes motivos, não repetiram o mesmo impacto junto ao público — com ressalvas a “Red”, que teve seu lançamento diretamente afetado pelo contexto da pandemia.
Este ano, o estúdio retorna às telonas com uma história inédita. Em “Elio”, acompanhamos um menino sensível e criativo que nunca se sentiu à vontade em seu próprio mundo. Fascinado por vida extraterrestre, ele sonha em ser abduzido — e é exatamente isso que acontece. Ao ser levado por engano para outro planeta, Elio acaba sendo identificado como o embaixador da Terra em uma assembleia intergaláctica. Ele precisa provar que é capaz de representar a humanidade, mesmo sem entender o que está fazendo.
Agora, a pergunta que não quer calar é: com “Elio”, o estúdio retorna à sua triunfante forma? A Alpha teve o privilégio de assistir à animação em antemão e te conta tudo o que esperar do filme!
A dinâmica da história
A trama de “Elio” envolve, sobretudo, o guarda-chuva primordial de temáticas emocionais que tendem a envolver um público infantil, mas também mais maduro; fórmula conhecida da Disney-Pixar. O luto, identidade, abandono, família, são alguns dos motes que carregam o roteiro da mais recente animação. No entanto, dessa vez, os temas são abordados mais profundamente, ainda que de maneira leve e digerível para crianças, e menos alegoricamente.
Em termos de roteiro, “Elio” aposta em colocar seu protagonista diante de idealizações sociais mais complexas do que o habitual para a faixa etária retratada. A abordagem bem-humorada proporciona leveza e momentos divertidos, mas, em certos trechos, o tom pode soar um tanto distante do universo infantil – ou, pelo menos, deveria ser distante.
Por outro lado, um dos méritos do filme é não subestimar a inteligência de seu público. A trama se mantém envolvente ao explorar múltiplos conflitos paralelos, sem se perder em uma narrativa excessivamente centralizada ou emocionalmente simplificada.
Mudanças e outros destaques
Essa densidade narrativa também reflete as transformações pelas quais o projeto passou. Desde seu anúncio, “Elio” foi alterado em diversas instâncias, incluindo a substituição de sua direção. O cineasta Adrian Molina, que originalmente inspirou a história a partir de experiências pessoais, foi sucedido por Madeline Sharafian e Domee Shi, responsáveis por reformulações significativas no projeto.
“Estávamos apenas à margem, um pouco envolvidas criativamente no início, quando o Adrian começou a desenvolver [o filme]. Depois ele confiou a mim e à Maddie a tarefa de terminar o que ele havia começado. Foi como se nos entregassem uma caixa de brinquedos e tivéssemos que descobrir como contar a melhor história da forma mais significativa e divertida possível com eles”, relatou Domee Shi em entrevista.
No entanto, a temática central – a busca por pertencimento em um mundo colorido e holístico – parece ter permanecido a mesma, e é um dos grandes acertos do filme. Narrativamente, mas também visualmente, “Elio” se destaca com animações vibrantes, detalhadas e visualmente únicas, trazendo, essencialmente, a pitada de mágica que talvez seja o que vinha faltando para o estúdio.
Outro destaque é a trilha sonora: ao lado de arranjos de cordas cinematográficos, surgem surpresas como “Once in a Lifetime”, da banda de rock experimental Talking Heads, enriquecendo a experiência com contrastes sonoros inusitados.