O Dia da Mulher está chegando, e o Brasil nunca teve, como hoje, tantas mulheres nos quadros da Academia Brasileira de Letras (ABL). Mas e se eu te dissesse que são apenas cinco dentre 40 cadeiras (12,5%)? Ana Maria Machado, admitida em 2003, Rosiska Darcy de Oliveira, em 2013, Fernanda Montenegro, em 2022, Heloísa Teixeira, em 2023, e Lilia Schwarcz, eleita na quinta-feira (7).
Considerando todo o panteão de imortais, segundo um levantamento feito pela Alpha FM, são 11 em 306 nomes (3,6%). Além das escritoras já citadas, também já vestiram o fardão: Rachel de Queiroz, pioneira em 1977, Dinah Silveira de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon, Zélia Gattai e Cleonice Berardinelli.
Aliás, Clarice Lispector, a maior escritora brasileira, não quis se candidatar. As razões são desconhecidas, porém, em perspectiva histórica, poderia significar um gesto político. Até 1977, a ABL só aceitou homens e precisou mudar o estatuto para admitir mulheres.
No caso da principal premiação internacional, o Nobel de Literatura, o cenário é melhor que o doméstico. Em mais de um século, 16 autoras foram laureadas de um total de 120 prêmios (13,3%). Por esses números e por outros motivos, às vésperas do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, indicamos cinco autoras que você precisa conhecer.
Annie Ernaux
A escritora francesa, 83, venceu pelo conjunto da obra o Nobel de Literatura em 2022 e, no mês seguinte, participou da Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), no Rio de Janeiro. Na França, seus livros são considerados clássicos modernos. Ernaux é uma pioneira da autoficção, atenta ao cotidiano que a rodeia. “Procuro na realidade o que corresponde a algo profundo dentro de mim”, disse em entrevista neste mês à revista Marie Claire.
Desde 2021, os livros no Brasil são publicados pela Fósforo: O LUGAR (1983), A VERGONHA (1997), O ACONTECIMENTO (2000) e OS ANOS (2008). Os mais recentes são: O JOVEM (2022), PAIXÃO SIMPLES (2023), A OUTRA FILHA (2023) e A ESCRITA COMO FACA (2023).
Camila Sosa Villada
A atriz e romancista transgênero argentina, 42, é outra que caminha pelo terreno das vivências autobiográficas. Assim como Annie Ernaux, marcou presença na Flip de 2022. Para ela, a realidade e a linguagem são violentas e discriminatórias. A violência transfóbica, particularmente, quando se viu submetida à prostituição é retratada nos escritos. Porém, de forma alguma, deixa de fabular e fazer ficção, como resistência e sobrevivência. “O parque das irmãs magníficas” (2021), premiado na Feira Internacional do Livro de Guadalajara, e “Sou uma tola por te querer” (2022) estão disponíveis pela Tusquets Editores, do Grupo Planeta.
Eliana Alves Cruz
No Dia Internacional da Mulher, a escritora, roteirista e jornalista carioca, 68, será homenageada pela Fundação Biblioteca Nacional. Eliana Cruz vem se destacando no rol de autores da literatura afro, fazendo das mulheres negras protagonistas das histórias, por exemplo, no mais novo romance “Solitária (2022)”, da Companhia das Letras. Além disso, mergulha em questões relacionadas à escravidão, como em “Água de Barrela” (2016) e “O crime do Cais do Valongo”(2018), ambos da Malê Editora. Há dois anos, Cruz ficou em 1º lugar no prêmio Jabuti na categoria conto por “A vestida: contos” (2022), também da Malê.
Micheliny Verunschk
Nossa segunda representante da literatura nacional é uma historiadora, mestre em Literatura e Crítica Literária e doutora em Comunicação e Semiótica. A pernambucana Micheliny Verunschk, 51, é versátil. Transita por contos, poesias e romances. Verunschk faturou o prêmio São Paulo de Literatura com “Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida” (2014), da Editora Patuá. Ademais, foi ao topo do Jabuti de melhor romance literário, em 2022, com “O som do rugido da onça” (2021), da Companhia das Letras. Mais recentemente, pela mesma editora, lançou “Caminhando com os mortos” (2023), um romance sobre as consequências da intolerância e da doutrinação religiosa.
Michelle Zauner
Já que a nossa especialidade é música, incluímos nessa lista uma cantora que escreveu um best-seller recentemente. A sul-coreana Michelle Zauner, 34, líder da banda de pop alternativo Japanese Breakfast, lançou “Crying In H Mart” (2021), traduzido ao português pela Fósforo como “Aos Prantos no Mercado: Memórias” (2022). O livro ficou mais de 50 semanas na lista de mais vendidos da categoria de não-ficção do New York Times. Zauner pôs-se a escrever após o falecimento da mãe, como parte do processo de luto, usando diversos elementos, entre eles a comida, para efeito de recordação e memória.