The Cure volta ao Brasil após 10 anos e fecha Primavera Sound de forma grandiosa

Evento apostou na nostalgia das décadas de 80 e 90 para segunda edição

Depois de estrear no Brasil no ano passado, o Primavera Sound – criado em Barcelona – retornou ao país em uma edição ainda mais grandiosa no final de semana, no Autódromo de Interlagos. Neste domingo (03), aconteceu o segundo dia de shows, após o sábado ter sido finalizado com apresentações de bandas como The Hives, Pet Shop Boys e The Killers. 

Diferente da primeira edição, que contou com artistas mais contemporâneos, a produção investiu pesado desta vez em nomes consagrados principalmente entre os anos 1980 e 1990, com um apelo nostálgico que conquistou o público de primeira. Alguns deles, como foi o caso do headliner da noite, The Cure, não vinham ao Brasil há uma década, o que tornou o evento ainda mais aguardado. 

O Primavera Sound tenta fugir do mainstream dos demais festivais, com atrações diferenciadas e com forte apelo musical – que deve ser sempre a maior estrela da noite. O evento também contou com distribuição gratuita de água em diversos pontos (incluindo as grades de frente aos palcos) e de protetor solar, pois o calor e o Sol não estavam para brincadeira no final de semana. A iniciativa deveria pegar e se tornar comum nos grandes eventos, tornando a experiência de um festival ainda melhor. 

Primavera Sound não é só rock! 

Para abrir a tarde – de muito calor, por sinal – o domingo no Primavera contou com apresentação no Palco Corona de Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, banda que faz parte da nova geração da música brasileira e traz uma mistura entre os subgêneros do Indie Pop e Rock. Cheia de carisma, a artista convidou o público para cantar juntos os hits do novo álbum “MÚSICA DO ESQUECIMENTO”, lançado no último mês. A banda também já foi confirmada na edição de Barcelona do Primavera Sound 2024. 

Filipe Catto foi, de fato, outro grande destaque e presente no cenário musical nacional. Levando ao Palco São Paulo músicas do seu novo álbum “Belezas são coisas acesas por dentro” (dedicado à Gal Costa), a artista emocionou o público fiel que cantou junto todas as músicas. Com muita autenticidade e sentimento, a cantora abriu com “Lágrimas Negras”, seguida de “Tigresa” em arranjos modernos e uma banda tão animada quanto. “Esotérico”, “Vaca Profana” e “Vapor Barato” também estiveram no setlist, que poderia ter sido ainda mais extenso para um show de tamanha grandiosidade. 

Carly Rae Jepsen veio ao Brasil pela primeira vez nesta edição do Primavera Sound. Após estourar em 2012 com o hit “Call Me Maybe” – também no setlist do show – a canadense não teve outros grandes sucessos mainstream, mas manteve uma base sólida de fãs que estiveram presentes no Palco Corona para a sua apresentação animada e de hits enérgicos.

Com duas backing vocals acompanhando Carly e explosões de papel picado nos refrões, o calor que castigava os fãs passou despercebido para a euforia da plateia, que cantou junto músicas como “Run Away With Me”, “Cut To The Feeling”, “The Loneliest Time” e “I Really Like You”. “Demoramos muito para vir aqui. Espero não demorarmos mais na próxima vez!”, disse ao final. 

Assim que Carly deixou o Corona, ao lado, no Palco Barcelona começava o show de Marina Sena, uma das artistas mais populares no país atualmente. “Se eu não estivesse aqui cantando, estaria aí assistindo. É a minha cara estar aqui. Todos nós somos a mesma coisa”, disse emocionada no início do show à plateia. Estourada em 2021 com o primeiro álbum da carreira, “De Primeira”, e o hit “Por Supuesto”, Marina conquistou uma base sólida de fãs, que a levaram aos palcos de outros grandes festivais nacionais, como Lollapalooza, Rock In Rio, The Town, Coala e mais.

Com sua voz singular e acompanhada de um balé, apresentou músicas do primeiro trabalho e também do mais atual, “Vício Inerente”, como “Dano Sarrada”, “Que Tal” e “Sonho Bom”, que abriu a apresentação. Marina também mostrou o quanto ama estar cantando em São Paulo, sua segunda casa depois de Taiobeiras (MG): “São Paulo me acolheu quando saí de lá do norte de Minas para tentar ser alguém na vida”, comentou.

Os destaques da nostalgia no line-up 

De volta ao Brasil após dez anos, Beck levou um show dançante aos fãs do Primavera Sound, que temiam pelo seu cancelamento, já que sua apresentação solo no Rio de Janeiro foi desmarcada “por motivos de saúde” no dia anterior.

Com uma apresentação sem muita interação com a plateia e músicas tocadas na sequência sem pausas, o setlist abrangeu hits de toda a carreira – dos seus 14 discos – e estilos diferentes, do funk ao eletrônico, do country ao folk. Apelidado de príncipe do rock alternativo e diversos Grammys, abriu a apresentação com “Devils Haircut” e “Mixed Bizness”, além de outros hits como “Nicotine & Gravy” e a parceria com Gorillaz “The valley of the pagans”.

Um dos pontos altos, definitivamente, foi quando Beck parou para conversar com o público e declarou seu amor pelo Brasil. “Eu amo o Brasil, eu amo a música brasileira. Meu primeiro show da vida foi de Tom Jobim”, disse. Seu maior hit “Loser”, ficou para o final, que terminou com “One foot in the grave”, sem outras interações com os fãs. 

Levando em conta a nostalgia do rock que o Primavera Sound trouxe para a edição, Bad Religion mostrou toda a força do punk rock dos anos 1990 para uma plateia sem fim no Palco Barcelona. O show, extremamente bem executado e de muita energia por parte dos integrantes, apresentou músicas como “The Defense” e “Los Angeles is Burning” e “Wrong way kid”. Greg Graffin, vocalista do grupo, esbanjou simpatia e convidou diversas vezes a plateia para gritar, bater palmas e formar rodinhas-punk comuns na cena do rock (conhecidas por “mosh”) mas que, no Primavera Sound, aconteceram de forma tímida.

“Infected” foi um dos pontos altos do show, uma das mais celebradas e cantadas pela plateia, assim como “American Jesus”. Foi um show para sair leve, depois de muitos pulos, e celebração à existência do punk rock. “Nos vemos no The Cure”, disse Graffin ao final, sugerindo que assistiria à apresentação também. 

The Cure fecha de forma grandiosa

Com a maior quantidade de camisetas estampadas no festival, The Cure reforçou o motivo de serem os grandiosos da noite. Em um show de duas horas e meia, a banda de pós-punk manteve o público de olhos atentos ao palco em sua quarta passagem pelo Brasil – a última vez que estiveram aqui foi em 2013.

Robert Smith, com seus característicos cabelos bagunçados e maquiagem borrada estava com uma camiseta que contava com o símbolo da bandeira do Brasil e guiou o público em uma jornada de altos e baixos sentimentais. “Lovesong”, “And nothing is forever”, “Friday I’m in Love”, “Close to me” e outros grandes hits emocionaram o público mais velho do Primavera. 

Também esteve no setlist as três músicas do novo disco “Songs of a lost world”, que mesmo não tendo sido lançado ainda, já marca presença nos shows. A banda também não interagiu com a plateia, apenas ao final, quando Smith soltou um “obrigado” em português, seguido de “é bom estar de volta”, na sua língua nativa. Entre as músicas do extenso bis, “Boys Don’t cry” fecha a noite, que ficou marcada na história do festival. 

Crédito imagem de capa: Fábio Tito/G1

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