O Deep Purple está de volta ao Brasil pelo terceiro ano consecutivo. Novamente com a turnê em divulgação ao mais recente álbum “=1” (2024), a banda tocou como atração principal do festival Best of Blues and Rock, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, neste domingo (15), fechando a edição de 2025.
Quem assistiu ao grupo no evento, seja pela primeira ou décima vez, presenciou uma performance impressionante, atemporal e inesquecível. Não há dúvidas de que o Deep Purple seja um dos maiores nomes da história do rock, mas vê-los ao vivo só dá ainda mais certeza.
Aproximadamente às 20h, imagens cósmicas ocuparam o telão. Em referência ao último disco, apareceram fórmulas matemáticas, o nome da série de apresentações e fotos transparentes dos músicos, como se fossem seres místicos espaciais. Enquanto isso, “Baker Street”, na versão do Foo Fighters, e “Learning to Fly”, do Pink Floyd, tocavam nas caixas de som – assim como na performance no ano passado, no Espaço Unimed.
Pontualmente às 20h20, as luzes apagaram e a orquestral “Mars, the Bringer of War”, de Gustav Holst, deu início ao espetáculo, acompanhada de uma animação em tons de roxo. Depois que o desenho formou o logo da banda, Ian Gillan (voz), Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria), Simon McBride (guitarra) e Don Airey (teclado) iniciaram o espetáculo já com o clássico “Highway Star”.
Logo de cara, a roupa do vocalista chamou atenção. Normalmente, o cantor opta por camisas com manga comprida, mas, desta vez, vestiu uma camiseta branca curta, com os dizeres em preto “No Control”, além de ter subido ao palco com o próprio crachá de acesso ao backstage.
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Ao longo de todo set, Gillan tocou pandeiro e, como de praxe, gaita em “Lazy”. Mesmo com as mãos trêmulas, olhos às vezes fechados e certas pausas para um “descanso”, o artista de 79 anos continua com uma habilidade vocal exemplar.
Inclusive, o astro sustentou uma nota alta em “When Blind Man Cries” (em suas palavras, faixa a respeito dos “menos afortunados que a gente”) que o fez ser ovacionado. Em resposta, agradeceu e pediu, em tom de brincadeira, para a plateia parar, tamanha modéstia.
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“É bom estar de volta em São Paulo. Aqui tem muita energia, é maravilhoso. Eu sou muito grato pela energia de vocês, é um lugar lindo”, pronunciou ao público, dizendo também, por mais de uma vez, um “obrigado” em português.
Basicamente, o repertório seguiu o esperado e contou com canções como “Into the Fire” (tomada por um efeito de chamas no telão), “Uncommon Man” (dedicada para o saudoso tecladista Jon Lord), “Anya” (sobre uma “linda mulher”) e “Lazy Sod” (que, segundo Gillan, “as pessoas acham que é sobre o aquecimento global ou mudança climática, mas é sobre o dia em que coloquei fogo na minha casa”).
Um dos maiores destaques da noite ficou em “Space Truckin’”. Com uma iluminação especial toda colorida em arco-íris, a canção gerou uma dancinha de socos no ar por parte de Gillan, troca de risadas entre Simon e Roger e holofotes na bateria de Paice, trajado com óculos escuros.
E, claro, “Smoke On The Water”, com a plateia cantando sozinha ao final, também não poderia deixar de ser mencionada. Dona de um dos riffs mais conhecidos da história, a canção ainda consegue ser impactante após décadas de lançamento. Além disso, detalhes como o início com McBride à frente do palco e a iluminação especificamente em vermelho durante o trecho “with a few red lights and a few old beds” tornam a execução ainda mais interessante.
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“Novato” na banda, Simon parece cada vez mais à vontade. Sorridente, o guitarrista substituto de Steve Morse desde 2022 interagia o tempo inteiro com os outros integrantes e, genuinamente, estava se divertindo. Aliás, chegou a dividir vocais com Gillan em “Lazy Sod” e na própria “Smoke On The Water” e realizou um solo de aproximadamente cinco minutos, numa das ocasiões mais “dramáticas” da noite – na qual ficou sozinho no palco, quase que completamente escuro.
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Da mesma maneira, o carismático Don também brilhou. Primeiramente, o tecladista ganhou um solo no começo do repertório, onde fingiu tomar uma cerveja no copo em meio à performance. Depois, já mais para o final, aproveitou o momento para, como sempre, homenagear o Brasil, tocando um trecho de “Aquarela do Brasil”.
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Para a alegria dos fãs, o tecladista colocou ainda uma camisa da seleção brasileira ao voltar para o encore. Sobretudo, “Hush” e “Black Night”, com projeções de silhuetas femininas no telão, figuraram no bis. Apesar dos pedidos insistentes dos fãs, “Perfect Strangers” mais uma vez ficou de fora.
Como despedida, Gillan desfilou elogios. Chamou a plateia de “maravilhosa”, “fantástica” e “surreal” e destacou que a banda amava os brasileiros – o que, diante das inúmeras passagens pelo país, com toda certeza é verdade.
Num geral, quem esteve na apresentação mais recente da banda na capital paulista, em setembro do ano passado, não notou muitas diferenças. Isso porque a única mudança expressiva ficou na saída de “Portable Door”. Porém, no fim das contas, prestigiar a grandiosidade do Deep Purple é sempre uma experiência única.
Setlist
- Highway Star
- A Bit on the Side
- Hard Lovin’ Man
- Into the Fire
- Solo de guitarra (Simon McBride)
- Uncommon Man
- Lazy Sod
- Solo de teclado (Don Airey)
- Lazy
- When a Blind Man Cries
- Anya
- Solo de teclado (Don Airey)
- Bleeding Obvious
- Space Truckin’
- Smoke on the Water
- Green Onions (cover de Booker T. & the MG’s) + Hush (cover de Joe South)
- Black Night