Taylor Swift é um dos maiores fenômenos do pop. Em atividade desde 2003, a cantora é recordista nas paradas e nas principais premiações da música. Sobretudo, ela acumula 14 GRAMMYs, quase 100 milhões de ouvintes mensais no Spotify, além de, agora, deter o título de turnê mais lucrativa da história. E como tudo isso aconteceu?
Início no country
A cantora descobriu a paixão pela música cedo. Ainda na infância, ganhou o seu primeiro violão. Curiosamente, aprendeu a tocar o instrumento com a ajuda de um profissional que apenas tinha ido arrumar o seu computador.
Aos 14 anos de idade, inspirada por nomes como Shania Twain e Dixie Chicks, ela decidiu que queria ir para Nashville tentar carreira no country. Em novembro de 2004, tocou no The Bluebird Cafe, no que ficou conhecida como sua primeira apresentação. Na plateia, estava o diretor executivo Scott Borchetta, responsável por “descobri-la” e gerenciá-la na gravadora Big Machine.
Então, em 2006, disponibilizou o seu primeiro álbum de estúdio homônimo. À época, para promovê-lo, passou a abrir shows de artistas como George Strait, Brad Paisley, Tim McGraw e Faith Hill. Porém, tudo mudou em 2008, quando lançou o seu segundo disco, “Fearless”.
Com o projeto, a cantora emplacou os seus primeiros hits: “Love Story” e “You Belong With Me”. Também embarcou em sua primeira turnê própria, inclusive com datas em estádio. Pelo material, ela ganhou seu primeiro Grammy de “Álbum do Ano”, sendo, então, a artista mais jovem a vencer a categoria, aos 19 anos.
Todo o contexto abriu caminhos para o terceiro álbum de estúdio, “Speak Now”, no qual atuou como a única compositora.
Ascensão ao pop
No entanto, ficava cada vez mais claro que a artista queria alçar voos mais altos. Em 2012, disponibilizou seu quarto álbum de estúdio, “Red”, com produção de Max Martin e Shellback, queridos do pop. Do disco, saíram os sucessos “I Knew You Were Trouble”, “22” e “We Are Never Ever Getting Back Together”, que já mostravam um pé no estilo citado.
A transição de gênero musical ocorreu de fato com o sucessor “1989” (2014). Após perder o troféu de “Álbum do Ano” com o projeto anterior, ela decidiu sair da zona de conforto e explorar novas sonoridades – mesmo que a sua gravadora não estivesse satisfeita com a mudança.
O disco marcou o início da parceria com Jack Antonoff e da fama estrondosa da artista. Isso porque o álbum tornou-se o mais vendido de 2014, comercializando, mundialmente, mais de 14 milhões de cópias. Ainda, fez com que Taylor Swift ganhasse pela segunda vez a categoria de “Álbum do Ano”, tornando-se a única mulher a conseguir o feito. “Blank Space”, “Bad Blood” e “Shake It Off” são só algumas das faixas presentes.
Retorno triunfal
Tudo parecia bem, até que a cantora sofreu um cancelamento na internet. Em 2016, Kanye West, com quem ela já tinha uma rixa desde 2009, disponibilizou uma faixa chamada “Famous” em que citava a cantora de maneira controversa. Diante do acontecimento, a própria alegou que não tinha conhecimento total da letra.
Porém, Kim Kardashian, então esposa do rapper, divulgou uma ligação manipulada, na qual parecia que a artista havia concordado com o lançamento. Ao receber um ódio descomunal nas redes sociais, ela preferiu sumir dos holofotes por um bom tempo, até retornar com o álbum “reputation” (2017). Com elementos do R&B, o disco trouxe uma cantora “vingativa”, com um conceito marcado por cobras, cores escuras e uma personalidade mais “sombria”.
Claro que o comeback foi triunfal, celebrado na estrada com a “reputation stadium tour” ao longo de 2018. À época, virou a turnê feminina de maior arrecadação dos Estados Unidos, a turnê feminina de maior bilheteria da década e a segunda maior bilheteria de uma turnê feminina da história.
Regravações
Taylor Swift voltou para o seu estado “natural” em “Lover” (2019), cujo primeiro single, “ME!”, foi uma parceria com o vocalista Brendon Urie, do Panic! at the Disco. Sobretudo, o trabalho saiu pela gravadora Republic Records, a “nova casa” da estrela.
Ela deixou a Big Machine em 2018 e, posteriormente, revelou uma briga envolvendo a empresa. Em suma, a cantora perdeu os “masters”, tipo de direito autoral, de seus primeiros álbuns, que acabaram comprados pelo empresário Scooter Braun. Ao longo de um comunicado, ela contou:
“Durante anos pedi e implorei por uma oportunidade de ter posse do meu trabalho. Em vez disso, foi me dada a oportunidade de renovar meu contrato com a Big Machine Records e ‘ganhar’ um álbum de volta por vez, um a cada álbum novo que entregasse. Eu saí de lá porque sabia que uma vez que assinasse aquele contrato, Scott Borchetta iria vender a gravadora, consequentemente me vendendo junto com meu futuro.
Tive que tomar a difícil decisão de deixar o meu passado para trás. As músicas que compus no chão do meu quarto e vídeos que sonhei e paguei do dinheiro que ganhei tocando em bares, clubes, arenas e estádios. Fiquei sabendo que o Scooter Braun se tornou dono dos meus originais junto com todo o mundo […]. Agora Scooter me despiu do trabalho de minha vida e que eu não tive oportunidade de comprar. Essencialmente, o legado de minha música está prestes a ir para as mãos de alguém que tentou acabar com ele.”
Importância das “Taylor’s Version”
Por isso, a artista decidiu regravar o seu catálogo, para ter total posse e decisão sob as faixas. Intituladas “Taylor’s Version”, as novas edições passaram a ser liberadas em 2021, com novas sessões de foto, músicas extras e inéditas, apelidadas de “From The Vault”, além de parcerias, com o intuito de receber atenção do público. Algumas também acabaram licenciadas em produções cinematográficas.
A atitude gerou um impacto na indústria, sendo considerada um movimento inédito para uma cantora de sua magnitude. Aliás, conforme a Billboard, inúmeras gravadoras revisaram seus contratos com artistas diante do fato.
Experimentação na pandemia
Inicialmente, Taylor Swift planejava excursionar pelo mundo durante o ano de 2020. Contudo, com a pandemia, precisou suspender os planos. Ao ficar de “quarentena”, criou de maneira natural e não planejada dois álbuns de estúdio: “folklore” (2020) e “evermore” (2020). Nos discos, novamente, ela decidiu inovar, optando por uma sonoridade mais indie/alternativa, criando uma história fictícia nas letras sobre um triângulo amoroso e trabalhando pela primeira vez com o produtor Aaron Dessner, do The National.
Foi o começo de um sucesso meteórico. Ao mostrar um novo lado sensível como compositora e artista, longe das batidas pop, naquele contexto, a cantora conquistou um outro tipo de público que, até então, não ouvia o seu trabalho. Para completar, com o primeiro dos discos, ganhou mais uma vez o prêmio de “Álbum do Ano”. O fato notável a colocou ao lado de Stevie Wonder, Frank Sinatra e Paul Simon, que, até então, eram os únicos a atingirem o mesmo patamar.
Consolidação no topo
Assim, o jogo já estava “ganho” quando lançou “Midnights” (2022). Com o disco, conseguiu o recorde de álbum com maior quantidade de streams em um único dia no Spotify, com 186 milhões de reproduções. Também conquistou “Álbum do Ano”, agora, sendo a única da história com quatro vitórias.
Mais recentemente, ela disponibilizou o seu décimo primeiro álbum de estúdio, “The Tortured Poets Department”. Com 31 faixas, o disco já é o mais vendido de 2024. Apenas na primeira semana, 2,6 milhões de cópias foram comercializadas nos Estados Unidos – a segunda melhor estreia da história na parada Billboard 200, perdendo apenas para “25” (2015), de Adele.
Legado
Com uma maneira única, pessoal e detalhada de escrever sobre relacionamentos, a cantora influenciou diretamente uma série de artistas da nova geração. Nomes como Olivia Rodrigo, Sabrina Carpenter, Gracie Abrams, Maisie Peters, Conan Gray e Phoebe Bridgers já declararam o amor pela chamada “loirinha”.
Para além da aclamação no Grammy e das vendas meteóricas, ela também tem prestígio em outras premiações. No American Music Awards, virou a maior ganhadora de todos os tempos, superando Michael Jackson, com 40 troféus, e também recebeu o título de “Artista da Década” em 2019. Já no BMI Awards em 2016, tornou-se a primeira mulher a ganhar um prêmio com seu próprio nome.
Ainda, em 2022, recebeu um doutorado honorário da Universidade de Nova York (NYU). No ano seguinte, acabou eleita a “Pessoa do Ano” pela revista Time. Exerceu até mesmo influência nos jogos de futebol americano do time Kansas City Chiefs, ao frequentá-los por causa do namorado e jogador Travis Kelce, aumentando consideravelmente a audiência.
O caso da “The Eras Tour”, atual turnê de Taylor Swift
Desde março de 2023, Taylor Swift está levando a “The Eras Tour” para inúmeros lugares do mundo – inclusive, o Brasil. Como diz o nome, a série de shows celebra todas as fases de sua carreira e, em um espetáculo de três horas e meia, mostra a cantora relembrando faixas de cada um de seus discos – apresentados ao público por meio de atos.
Quando a venda para as datas dos Estados Unidos começou, uma demanda “sem precedentes” surgiu. Conforme a Ticketmaster, Taylor precisaria fazer mais de 900 shows em estádios no país para conseguir suprir a quantidade de fãs interessados em assisti-la.
Não é de surpreender que todos os ingressos tenham esgotado rapidamente. Tanto é que inúmeros Swifties, que não conseguiram as entradas, juntam-se do lado de fora dos estádios para acompanhar de longe a performance. Num fim de semana em Munique, na Alemanha, mais de 50 mil pessoas reuniram-se aos arredores para dar uma espiada, segundo a própria.
Impacto da turnê
De acordo com números divulgados pela Pollstar, a excursão arrecadou cerca de US$ 1,04 bilhão em vendas de ingressos somente com seus primeiros 60 shows – o que inclui a primeira etapa norte-americana e as primeiras datas em Buenos Aires, na Argentina. Assim, é a mais lucrativa da história. Ainda, o longa-metragem do giro, gravado em Los Angeles, virou o filme-concerto de maior bilheteria de todos os tempos, conquistando US$ 267,1 milhões.
Ao longo deste ano, Taylor Swift ainda tocará em estádios europeus lotados até o fim de agosto. Por fim, em outubro, retorna à América do Norte novamente, finalizando o itinerário em dezembro. Por isso, a Variety aposta que o número bata a casa dos US$ 2 bilhões.
Sem dúvida, a turnê estabeleceu comportamentos que furaram a bolha. Por causa da faixa “You’re On Your Own, Kid”, os admiradores começaram a fazer pulseiras da amizade e a trocá-las durante as apresentações – tradição que virou comum até em outros espetáculos. O conceito de dividir uma carreira em “eras” também ficou popular nas redes sociais. Ainda, a série de shows exerceu grande impacto na economia dos países onde passou, acrescentando US$4,3 bilhões só no PIB americano, conforme estimativas.